Christine Lagarde, a advogada que virou a toda poderosa das finanças mundiais

Primeira mulher a presidir o Banco Central Europeu, Christine Lagarde foi também diretora-gerente do FMI, ministra das Finanças da França e presidente da banca multinacional de advocacia Baker & McKenzie.

Nome completo:Christine Madeleine Odette Lagarde
Ocupação:Presidente do Banco Central Europeu (BCE)
Local de nascimento: Paris, França
Data de nascimento: 01 de janeiro de 1956

Christine Lagarde, 65, é uma advogada, executiva e política francesa. Desde novembro de 2019, ela ocupa o cargo de presidente do Banco Central Europeu (BCE), autoridade monetária da Zona do Euro. Antes, de 2011 a 2019, foi diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI). De 2007 a 2011, serviu como ministra das Finanças da França. Lagarde foi a primeira mulher a ocupar a ocupar estas três posições.

O pioneirismo de Lagarde é anterior à sua entrada no setor público. Na iniciativa privada, ela foi a primeira mulher a integrar o comitê executivo do escritório multinacional de advocacia Baker & McKenzie, sediado em Chicago, nos Estados Unidos. Em 1999, tornou-se a primeira mulher a presidir a banca.

Acostumada a galgar posições em ambientes majoritariamente masculinos, a elegante Lagarde tem fé na liderança feminina, e costuma deixar isso claro. Para a executiva, segundo o jornal britânico The Guardian, homens sem supervisão tendem a fazer besteira. Quando era ministra das Finanças da França, Lagarde disse que se o banco norte-americano Lehman Brothers se chamasse “Lehman Sisters”, talvez não tivesse quebrado e precipitado a crise financeira internacional de 2008.

Mais recentemente, em dezembro de 2020, em entrevista publicada pelo site da rádio France Inter, ela se disse 100% a favor de política de cotas para mulheres nos conselhos de administração e comitês executivos das empresas, em vigor na Europa, e na França em especial. Lagarde garantiu que esta política é adotada no BCE. “Com competências iguais, uma mulher será contratada”, destacou, referindo-se a processos de seleção.

Em 2020, a presidente do BCE foi escolhida como a 2a mulher mais poderosa do mundo pela revista norte-americana Forbes, atrás apenas da chanceler alemã Angela Merkel.

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Quem é Christine Lagarde?

Christine Madeleine Odette Lallouette nasceu no dia 01 de janeiro de 1956, em Paris, França. Filha do professor de literatura inglesa Robert Lallouette e da professora de francês, latim e grego antigo Nicole Lallouette, ela e seus três irmãos mais novos foram criados num ambiente que valorizava o aprendizado, a cultura, as boas maneiras e a independência. Quando criança, Lagarde aprendeu inglês, espanhol, grego e latim.

A futura ministra frequentou a escola em Paris e Le Havre, na Normandia. Integrou a equipe francesa de nado sincronizado e chegou a ganhar uma medalha de bronze num campeonato nacional.

Quando tinha 17 anos, o pai morreu. No ano seguinte, 1974, Lagarde passou uma temporada nos Estados Unidos. Ela terminou o ensino médio na escola preparatória para meninas Holton Arms, em Bethesda, Maryland, e chegou a fazer um estágio no Congresso dos EUA.

Advocacia

Por duas vezes, ela tentou entrar na Escola Nacional de Administração (ENA), tradicional faculdade francesa de Administração Pública, mas não conseguiu. Foi então cursar Direito na Universidade de Paris X Nanterre. Tem mestrado em Literatura Americana pela Escola Superior de Arte de Avignon, em Economia e Finanças pelo Instituto de Estudos Políticos de Aix-en-Provence, e especialização em Direito Comercial e do Trabalho.

Em 1981, Lagarde começou a trabalhar na filial do escritório Baker & McKenzie em Paris. Em 1987, ela se tornou sócia. De 1995 a 1999, integrou o comitê executivo da banca. Tornou-se presidente em 1999, mudou-se para Chicago e foi reconduzida ao cargo em 2002.

De acordo com informações da Enciclopédia Britannica, Lagarde instituiu uma política de “cliente em primeiro lugar”, pela qual os advogados passaram a antecipar as necessidades dos clientes ao invés de apenas reagir às demandas. A iniciativa fez com que os lucros da banca crescessem de forma significativa.

Carreira pública

Em 2005, a executiva foi nomeada ministra do Comércio da França, no gabinete do então primeiro-ministro Dominique de Villepin. Durante seu período no cargo, as exportações francesas atingiram patamares recordes.

Em 2007, ela ocupou por um curto período a pasta da Agricultura e Pesca, e no mesmo ano tornou-se ministra das Finanças do governo do ex-presidente Nicolas Sarkozy. Lagarde não só foi a primeira mulher a comandar o Ministério das Finanças da França, mas a primeira a ocupar cargo semelhante em qualquer dos países do G-8, grupo que reunia os sete países mais ricos do mundo, mais a Rússia.

Lagarde pilotou a economia francesa durante a crise financeira internacional de 2008 e a crise da Zona do Euro em 2010 e 2011. De acordo com o jornal britânico Independent, a então ministra construiu uma reputação internacional de negociadora calma, porém, dura.

Já no início de sua passagem pelo governo francês, ela criticou a legislação trabalhista local, a jornada de trabalho de 35 horas e outras regras que, em sua visão, atrapalhavam a economia do país.

No ministério, Lagarde foi também severamente criticada pela condução de uma disputa entre o magnata francês Bernard Tapie – morto em outubro de 2021 – e o banco Credit Lyonnais, que se arrastava por anos. Tapie acusava a instituição financeira de ter subavaliado o valor da Adidas quando ele a vendeu em 1993, prejudicando-o. A então ministra interviu e mandou o caso para arbitragem, sendo que o painel de árbitros decidiu que o empresário deveria receber uma indenização de 285 milhões de euros.

Lagarde não recorreu da decisão e surgiram acusações de favorecimento ao empresário por seu apoio à eleição de Sarkozy. A ministra foi investigada, processada pelo caso e condenada em 2016, quando ocupava a direção do FMI.  Ela foi considerada culpada por negligência por um tribunal francês, mas não recebeu nenhuma pena. A executiva sempre negou qualquer irregularidade e sustenta que a decisão de mandar a questão para arbitragem e não recorrer da decisão “era a melhor solução na época”.

Como Christine Lagarde se tornou diretora-gerente do FMI?

O caso não impediu que Lagarde assumisse em 2011 o cargo de diretora-gerente do FMI, em substituição ao também francês Dominique Strauss-Kahn, que havia se demitido após ser acusado de tentativa de estupro de uma camareira num hotel nos Estados Unidos. Em seu primeiro mandato, ela teve que lidar com o rescaldo da crise da Zona do Euro, a crise da dívida da Grécia e o socorro financeiro a países árabes depois da chamada Primavera Árabe, em 2011.

Foi reconduzida ao cargo em 2016. Em 2018, agiu pela aprovação de um pacote de socorro do FMI à Argentina e, no mesmo ano, alertou para o perigo de uma guerra comercial e cambial entre os EUA e a China, disputa capitaneada pelo ex-presidente norte-americano Donald Trump.

Em 2019, Lagarde aceitou convite para presidir o BCE como sucessora do italiano Mario Draghi, atual primeiro-ministro da Itália. Deixou a direção do FMI para assumir o novo cargo. Pilotou o BCE durante a pandemia. Recentemente, ela disse que a instituição tem que manter uma política monetária mais flexível mesmo frente a picos temporários de preços.

Christine foi casada duas vezes. De 1982 a 1992, com Wilfred Lagarde, com quem teve seus dois filhos, Thomas e Pierre-Henri. Posteriormente, ela se casou com o empresário britânico Eachran Gilmour, de quem também se divorciou. Desde 2006, seu companheiro é o empresário francês Xavier Giocanti.

Saiba mais

Entrevista à rádio France Inter (em francês)

Datas e fatos sobre Christine Lagarde pela CNN

Financial Times explica política de Lagarde no BCE e destaca atuação no FMI

Reportagem da BBC explica o caso Bernard Tapie