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Filantropia

Não é à toa que, entre nós, viceja um forte preconceito antiempresarial e um sentimento igualmente forte de condenação ao sucesso financeiro das pessoas que atingiram um estágio que lhes propiciaria, junto com o reconhecimento comunitário, atitudes filantrópicas mais abrangentes.
Por  Rubens Menin
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Muito já se especulou e se disse sobre a influência das raízes culturais (incluindo valores, princípios e circunstâncias) sobre as atitudes e comportamentos característicos dos diversos povos e sociedades. Não pretendo aventurar-me nesses meandros sociológicos e filosóficos, tanto porque muitos ainda comportam preferências e controvérsias, como também e principalmente pelo fato de que pretendo abordar, no espaço restrito deste tópico, apenas os hábitos nacionais relacionados com a filantropia, a cooperação desinteressada, o voluntariado, a solidariedade, a ajuda aos necessitados em momentos de crise econômica ou quando da ocorrência de catástrofes naturais, as ações altruísticas permanentes em apoio a causas humanitárias e na busca de níveis melhores para a própria humanidade. Para esse propósito não preciso elencar postulados e conclusões de sociólogos renomados, inclusive daqueles que são citados com mais freqüência, como os marcos representados pela “A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo”, de Max Weber; pela “Teoria do Equilíbrio Geral”, de Kenneth Arrow e pela “A Sociedade de Confiança”, de Alain Peyrefitte. Também não pretendo retroceder às características da nossa colonização ibérica e católica. Prefiro desenvolver o assunto com base nas minhas próprias observações e nas convicções pessoais que já formei. É mais simples, mais direto e mais adequado para um texto opinativo de blog.

Quero partir de uma constatação básica e concreta: no Brasil, temos um comportamento geral mais egoísta, menos generoso e mais focado nos interesses pessoais e familiares do que aquele observado na maioria dos países mais desenvolvidos, com baixíssimo nível de doações caritativas, de esforço voluntário nas causas comuns e de apoio financeiro ou gerencial a instituições não governamentais de benemerência pública.Os estudos divulgados pela Charities Aid Foundation, renomada instituição inglesa com atuação global, indicam, também, que os norte-americanos são o povo com maior propensão ao voluntariado e à filantropia, praticando hábitos arraigados de doações patrimoniais ou financeiras para instituições de interesse público ou para causas especiais (universidades, estabelecimentos médicos, etc.). Segundo esses mesmos estudos, os norte-americanos entenderam, desde a formação de seu país, que deveriam ajudar os seus compatriotas necessitados por acreditarem que essa não seria a função básica do Estado ou, em outros termos: “o governo deve ser pequeno para que o povo seja grande”. Na realidade, esse pressuposto coletivo tem um corolário imediato: quanto maior e mais hipertrofiado for o Estado, maior será a possibilidade de fraudes, de corrupção e de desperdício do dinheiro público, comendo a renda de todos. Já que não esperam e nem querem muita ação do governo nesses assuntos, os norte-americanos, naturalmente, tomaram para si a responsabilidade de ajuda aos necessitados e de apoio ao desenvolvimento humanitário. Além disso, por reconhecerem, também natural e generalizadamente, que o sucesso econômico alcançado licitamente por empreendedores é um fator positivo que lhes confere mérito especial no julgamento coletivo, os norte-americanos acabaram por disseminar enormemente o hábito de grandes doações por parte desses mesmos empreendedores bem-sucedidos e reconhecidos. Da nossa parte o comportamento é outro: o brasileiro fica sempre a espera de que o governo cuide dos necessitados e, até mesmo, deles próprios, ainda quando têm capacidade de trabalho e de cuidar da sua própria vida. Não é à toa que, entre nós, viceja um forte preconceito antiempresarial e um sentimento igualmente forte de condenação ao sucesso financeiro das pessoas que atingiram um estágio que lhes propiciaria, junto com o reconhecimento comunitário, atitudes filantrópicas mais abrangentes.

Ao final de tudo, como o Estado é pouco eficiente e esbanjador, ao se apropriar exageradamente, da renda das pessoas, acaba por retornar pouco aos contribuintes e fazer com que o número de dependentes desse mesmo Estado cresça continuamente.  Essa é uma questão de difícil solução no curto prazo, mesmo porque a consciência dos brasileiros vem sendo continuadamente prejudicada por um ensino cada vez mais ideologizado nesse particular. Mas, apesar disso, temos que fazer um esforço para disseminação e prática de hábitos mais favoráveis à filantropia e à benemerência geral.

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