Ilan Goldfajn, o ex-presidente do BC que se tornou o 1º brasileiro a comandar o BID

Indicado pelo governo brasileiro para a presidência do Banco Interamericano de Desenvolvimento, Ilan Goldfajn tem vasta experiência em instituições públicas, privadas e multilaterais

Nome completo: Ilan Goldfajn
Data de nascimento: 12 de março de 1966
Local de nascimento: Haifa, Israel
Nacionalidade: Brasileira e israelense
Profissão: Economista
Cargos em destaque: Ex-presidente do Banco Central do Brasil, diretor do Hemisfério Ocidental no Fundo Monetário Internacional (FMI) e candidato à presidência da Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID)
Estado civil: Casado, três filhos

Ilan Goldfajn é um economista brasileiro. Ex-presidente do Banco Central, ele foi eleito à presidência do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), instituição multilateral de fomento econômico na América Latina e no Caribe. Ele é o primeiro brasileiro a liderar a organização desde sua fundação, em 1959.

Segundo o Ministro da Economia, Paulo Guedes, Goldfajn “concilia ampla e bem sucedida experiência profissional no setor público, em organismos multilaterais e no setor privado, além de sólida formação acadêmica, que o qualificam inequivocamente para o exercício do cargo de presidente desta importante instituição”.

Até a indicação, o economista era diretor do Departamento do Hemisfério Ocidental do Fundo Monetário Internacional (FMI). “Nesse ínterim e enquanto o processo estiver em andamento, renunciei às minhas responsabilidades no FMI e estou de licença do Fundo”, afirmou Goldfajn.

O Ministério da Economia informa que irá fazer “gestões para que o Brasil, que é o segundo maior acionista do Banco, assuma a presidência do BID pela primeira vez desde a sua criação”, com apoio do Itamaraty. Os Estados Unidos são o maior sócio. O Brasil ocupa a segunda posição, ao lado da Argentina.

De acordo com o governo brasileiro, o país “está comprometido com a atuação do banco no processo de integração regional, impulsionando o desenvolvimento de infraestrutura verde de transportes, energia e telecomunicações, entre os países membros da Instituição”.

O objetivo, ainda segundo o governo brasileiro, é promover “uma maior integração da América Latina e Caribe às cadeias regionais e globais de valor, com ganhos esperados de produtividade, emprego e renda para a região”.

O BID é o principal banco de desenvolvimento da região. A instituição mobilizou US$ 23,4 bilhões em financiamentos em 2021, sendo US$ 14 bilhões com recursos próprios e, o restante, junto ao setor privado.

O banco é presidido interinamente pela vice-presidente executiva Reina Irene Mejía Chacón, de Honduras. O presidente Mauricio Claver-Carone, dos Estados Unidos, foi demitido em setembro depois que uma investigação concluiu que ele teve um relacionamento amoroso com uma funcionária. Claver-Carone havia sido indicado pelo ex-presidente norte-americano Donald Trump.

Quem é Ilan Goldfajn?

Ilan Goldfajn nasceu em 12 de março de 1966, em Haifa, Israel, filho de José Jayme Goldfajn e Cyla Goldfajn, brasileiros de origem polonesa que, na época, viviam num kibutz, uma comunidade agrícola coletiva.

A família se mudou para o Rio de Janeiro quando Ilan tinha 13 anos. Ele estudou na escola americana da Gávea e, posteriormente, no Colégio Israelita Brasileiro A. Liessin.

Aos 18, voltou a Israel para ter sua própria experiência num kibutz. No retorno ao Brasil, entrou na faculdade de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde se formou em 1988. Em seguida, fez mestrado em Economia na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). As duas instituições são conhecidas por adotarem linhas econômicas diferentes: a primeira, mais heterodoxa, e a última, mais ortodoxa.

Na PUC-Rio, Goldfajn teve como mentor o professor Dionísio Dias Carneiro, um dos fundadores do Departamento de Economia da universidade e do Instituto de Estudos em Política Econômica Casa das Garças (IEPE/CdG), centro de pesquisas ao qual Goldfajn é associado e já foi diretor.

Depois de terminar o mestrado, Ilan se casou em 1991 com a psicóloga Denise Salomão Goldfajn. O casal tem três filhos: Gabriel, Maya e Amir.

Carreira nos EUA

Depois de casar, seguiu para um doutorado no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês), nos Estados Unidos. Lá teve como mentor o economista alemão Rudi Dornbusch, autor de diversos livros, alguns em parceria com o colega israelo-americano Stanley Fischer.

A tese de Goldfajn sobre a dívida pública ganhou o prêmio “World Economy Lab”, concedido pelo MIT. Ele concluiu o doutorado em 1995.

“Estudei na escola que a gente chama de keynesiana. Entendo a administração pública, ir para o governo, com o papel de moderar. Para ser um regulador, no BC, tem que atuar de forma equilibrada. Não radicaliza nem para um lado nem para o outro. Deixar o mercado competir, brigar. Vejo o papel do governo. O papel moderador é deixar os mercados funcionando, mas nunca soltos o suficiente para ir aos extremos. A gente sabe que os mercados, sozinhos, podem levar à concentração, a que não tenha competição”, afirmou Goldfajn ao Valor.

A família permaneceu nos EUA por mais quatro anos. Entre 1995 e 1996, Goldfajn deu aulas na Brandeis University, em Waltham, cidade próxima a Boston, Massachusetts.

Goldfajn foi convidado por Stanley Fischer para trabalhar no FMI. Fischer era, na época, vice-diretor-gerente do Fundo, o segundo cargo mais alto da instituição. Fischer já ocupou os cargos de economista chefe do Banco Mundial, presidente do Banco de Israel e vice-presidente do Fed, o banco central dos Estados Unidos. Goldfajn trabalhou como economista do FMI até 1999.

De volta ao Brasil, tornou-se professor da PUC-Rio, onde lecionou por dez anos, e foi trabalhar com Armínio no BC.

Fora do governo, foi sócio da Gávea Investimentos, gestora fundada por Armínio. Depois, criou sua própria gestora, a Ciano Investimentos e, posteriormente, a Ciano Assessoria Econômica.

Em 2009, assumiu como economista chefe e sócio do Itaú-Unibanco, cargo que ocupou até ser convidado para presidir o BC, em 2016.

Moderado ou ortodoxo?

Goldfajn assumiu o cargo de diretor no FMI em janeiro deste ano. Antes, foi presidente do Conselho do banco Credit Suisse no Brasil. Em 2021, segundo o jornal Valor Econômico, foi um dos organizadores do manifesto de empresários, banqueiros e intelectuais pelo respeito ao resultado das eleições de 2022, após os constantes ataques do presidente Jair Bolsonaro (PL) ao sistema eleitoral e ao Poder Judiciário.

“Estou envolvido como cidadão. A gente precisa de moderação também dos poderes. Não sou daqueles que passam o dia achando que vai ter alguma ruptura, sabe? Mas começo a perceber que, de fato, há conflitos. Vai ter eleição, mas não vai aceitar o resultado porque a urna não presta? Vai ter impeachment de ministro do Supremo? Começam as brigas. E isso começa a ter impacto na vida da gente”, declarou o economista na época.

Goldfajn se define como moderado, embora seja descrito como ortodoxo quando se trata de política econômica. Ao assumir a presidência do Banco Central, em maio de 2016, defendeu o tripé macroeconômico: câmbio flutuante, meta fiscal e regime de metas de inflação. É partidário da autonomia do BC.

Durante sua gestão no BC, encerrada em fevereiro de 2019, a Selic, taxa básica de juros, foi gradualmente reduzida de 14,25% para 6,5% ao ano. Isso não quer dizer que o economista tenha uma abordagem “dovish”, ou seja, favorável ao afrouxamento da política monetária. Ao longo de 2016, período de forte recessão, os juros foram mantidos em patamar bastante alto.

Em 2016, o centro da meta de inflação era de 4,5%. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) encerrou o ano acumulado em 6,29%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), portanto, abaixo do teto da meta, que era de 6,5%. Em 2017, o centro da meta permaneceu em 4,5%, mas o IPCA ficou em 2,95%, abaixo do piso da meta, que era de 3%. Nesse sentido, foi chamado também de “hawkish”, partidário de uma política monetária apertada.

Em 2017, Goldfajn foi escolhido Banqueiro Central do Ano pela revista britânica The Banker e, em 2018, Melhor Banqueiro Central pela publicação norte-americana Global Finance.

Goldfajn foi escolhido para a presidência do BC pelo então ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, no governo do ex-presidente emedebista Michel Temer (2016-2018). Ele substituiu Alexandre Tombini após o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).

O economista já havia trabalhado no BC como diretor de Política Monetária, de 2000 a 2003, durante a gestão de Armínio Fraga, no segundo mandato do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

Além da passagem recente pelo FMI, Goldfajn teve outras experiências em instituições multilaterais. Foi economista do Fundo de 1996 a 1999 e, posteriormente, atuou como consultor de organizações como o Banco Mundial, Nações Unidas e o próprio FMI.