Obstinado, Steve Jobs convenceu o mundo a usar computador e criou um ícone

Morto há dez anos, fundador da Apple teve enorme influência no desenvolvimento e popularização de equipamentos tecnológicos. Tido como visionário, era descrito também como tirânico.

steve jobs
Nome completo:Steven Paul Jobs
Data de nascimento:25 de fevereiro de 1955
Local de nascimento:São Francisco, Califórnia, EUA
Data de falecimento:05 de outubro de 2011
Ocupação:Empresário, fundador e CEO da Apple
Fortuna:US$ 7 bilhões em 2011*
*segundo ranking da Forbes

Steve Jobs (1955-2011) foi um empresário norte-americano do ramo de tecnologia, fundador da Apple Computer, hoje Apple Inc. Pioneiro da indústria de computadores pessoais, teve enorme influência na adoção e popularização da informática como item de consumo de massas.

Carismático, no final da década de 1970 convenceu o público que os computadores podiam auxiliar na realização de tarefas do dia a dia, e servir ao indivíduo como uma extensão de si próprio. Até então, as máquinas eram enormes, impessoais e utilizadas por grandes corporações.

Jobs é considerado visionário porque antecipou o avanço da computação e conseguiu transformá-la numa experiência pessoal, necessária, em constante evolução e com engajamento dos usuários, numa época em que ter um computador em casa não era uma necessidade, muito menos uma realidade.

Sua lógica não era atender a vontade do público, mas criar uma nova demanda que os consumidores sequer sabiam da existência, e convencê-los de sua importância. No anos 1980, chamou os microcomputadores de “bicicleta do século 21”, antevendo sua utilidade e disseminação.

Nesse sentido, as criações da Apple sempre tiveram grande foco na experiência individual, priorizando a facilidade de uso, o design, a integração de múltiplas funções e a diversão, mesmo tratando-se de plataformas de trabalho.

Quando a companhia foi fundada, o paradigma era a IBM, sisuda, monolítica, corporativa, sem personalidade. A Apple se vendia como o contraponto disso, jovem, alegre, inovadora e cheia de personalidade.

Jobs apresentava sua empresa como revolucionária, destinada a abalar as estruturas do mercado e mudar o mundo. Foi chamado de megalomaníaco, mas seus produtos de fato ajudaram a mudar a maneira como nos relacionamos com a tecnologia, e criaram ou potencializaram novos hábitos de consumo.

Desde o início, sua marca tem uma legião de fãs, quase como um seita. Nesse sentido, ele soube como ninguém adicionar o ingrediente “emoção” a algo impessoal como uma empresa.

Basta lembrar a longa lista de produtos Apple que foram e ainda são objetos de desejo, mesmo que outras marcas ofereçam itens semelhantes e, muitas vezes, mais baratos: Macintosh, iMac, iPod, iPhone, MacBook, iPad, e por aí vai. A empresa criada na garagem dos país de Jobs nos anos 1970 é hoje uma das maiores corporações do mundo.

Steve Wozniak, John Sculley e Steve Jobs
Steve Jobs (à esquerda) e Steve Wozniak (à direita) ao lado de John Sculley que ocupava o cardo de presidente da Apple em 1984. (Crédito: Bettmann / Getty Images)

Não faltam adjetivos para descrever Jobs. Gênio, visionário, eloquente, articulado, intenso, comprometido, workaholic; mas também impiedoso, traiçoeiro e cruel. Seduzia pessoas a segui-lo, mas pressionava, difamava e ignorava. Não hesitava em deixar os outros para trás para atingir seus objetivos. Teve grande sucesso, mas ficou conhecido também pela falta de empatia.

Adotado

Steven Paul Jobs nasceu m 24 de fevereiro de 1955, em São Francisco, na Califórnia, Estados Unidos. Filho do imigrante sírio Abdulfattah Jonhn Jandali e da norte-americana Joanne Schieble, então estudantes universitários, ele foi dado para adoção logo ao nascer. Foi adotado e criado pelo casal Paul e Clara Jobs em Cupertino, na Califórnia, onde hoje fica a sede da Apple, no Vale do Silício.

Em 2005, ao receber título de doutor honoris causa da Universidade de Stanford, Jobs disse que os país adotivos não haviam completado os estudos, e que sua mãe biológica só aceitou assinar os papeis de adoção definitivos quando o casal se comprometeu a mandar a criança para a faculdade, quando crescesse.

Jobs cresceu no local onde hoje se concentram algumas das maiores empresas de tecnologia do mundo. Interessava-se por engenharia, eletrônica e computação. Em 1972, entrou no Reed College, em Portland, Oregon, mas acabou desistindo da faculdade. Em 1974, foi trabalhar na Atari como designer de videogames.

Na época, seu amigo Steve Wozniak – cofundador da Apple – trabalhava na HP e fazia bicos na empresa de jogos eletrônicos. Ambos atuaram no desenvolvimento do jogo Breakout, um sucesso da Atari. Uma das primeiras controvérsias da vida profissional de Jobs ocorreu nesta época.

Segundo o fundador da Atari, Nolan Bushnell, e o próprio Wozniak, a companhia pagou um bônus à dupla pelo trabalho, mas Jobs não contou isso ao companheiro e lhe repassou apenas parte do pagamento, sem o extra.

Jobs e Wozniak já haviam trabalhado juntos produzindo “blue boxes”, uma geringonça que permitia burlar os protocolos das companhias telefônicas e fazer ligações gratuitas para qualquer lugar. Apesar de ilegal, Jobs viu nisso potencial para dispositivos tecnológicos no mercado de consumo.

Influenciado pelo movimento hippie, inclusive na maneira de se vestir, e fã de Bob Dylan, Jobs viajou à Índia em busca de iluminação, e depois aderiu ao zen budismo. Ele manteria ligação com esta tradição oriental para o resto da vida. Ao longo de sua carreira, o empresário viajou várias vezes ao Japão. A cultura e a estética japonesas teriam forte influência sobre ele e seus produtos.

O episódio da Atari não impediu que os dois Steves continuassem a trabalhar juntos. Jobs sugeriu a Wozniak montar um negócio para comercializar as placas de computador desenvolvidas pelo último, o verdadeiro gênio tecnológico por trás da Apple no início. A Apple foi fundada em 1976 com a produção manual do Apple I na garagem dos Jobs. Além dos Steves, trabalhava no negócio o amigo Dan Kottke, como soldador.

A garagem de Steve Jobs e Steve Wozniak
A famosa garagem onde Steve Jobs e Steve Wozniak montaram o primeiro computador da Apple (Imagem: Shutterstock)

O Apple I era pouco mais do que uma caixa de madeira com teclado, destinado aos já iniciados em computação. A ideia de Jobs, no entanto, era oferecer uma máquina acessível para todos. Isso ocorreu com o Apple II, também desenvolvido por Wozniak, um computador completo, com monitor, leitor de disquetes e teclado, apresentado em 1977.

Conversão

Desde cedo, Jobs apostou no marketing para convencer os consumidores a comprar seus produtos, ou melhor, “convertê-los”. O Apple II era apresentado como uma máquina fácil de usar até pelas crianças, adequado ao ambiente doméstico e capaz e auxiliar a família nas tarefas cotidianas, como escrever textos, fazer a contabilidade a até guardar as receitas culinárias. Foi um sucesso.

O Apple II abriu caminho para a disseminação dos computadores pessoais. O computador foi o primeiro a oferecer gráficos coloridos e permitia a ampliação de sua funções por meio de periféricos fabricados por terceiros.

Em 1980, a Apple fez sua oferta pública inicial de ações, e os papeis tiveram valorização acima de 100% no primeiro dia de negociação. A fortuna de Jobs passou de cerca de US$ 10 milhões para US$ 200 milhões de uma hora para outra. Wozniak tornou-se também um multimilionário, mas ao contrário de Jobs, não se interessava por administração, só por engenharia, e acabou deixando a Apple definitivamente em 1985.

Enquanto a Apple surgia e crescia, Jobs se envolveu em outra da grande controvérsia, desta vez na vida pessoal. Sua namorada, Chrisann Brennan, engravidou e, em 1978, deu à luz uma menina, Lisa Nicole Brennan. Embora tenha visitado a filha após o nascimento e ajudado a escolher o nome – com qual batizou também um modelo de computador -, durante anos Jobs negou a paternidade e só a admitiu posteriormente, por obrigação.

Em 1984, a Apple lançou um de seus produtos mais icônicos. Desenvolvido ao longo de anos, com muito trabalho duro dos funcionários, fustigados pelo chefe, o Macintosh tornou-se o novo paradigma da informática. Pela primeira vez um microcomputador contava com um mouse e uma interface gráfica fácil de usar, com pastas, janelas e menus como conhecemos hoje.

Jobs fez uma grande mise-en-scène para o lançamento. Contratou o cineasta Ridley Scott para dirigir o comercial do produto, exibido no Super Bowl de 1984, a final do campeonato de futebol americano. O computador em si foi revelado pelo próprio Jobs numa conferência com auditório lotado – o que se tornaria sua marca registrada nos anos seguintes quando da apresentação de produtos -, elevando-o ao status de ídolo pop.

Embora tenha se tornado um sucesso de vendas, incialmente o Mac foi mal e a liderança de Jobs foi parar na berlinda. Em 1983, ele próprio havia contratado o então CEO da PepsiCo, John Sculley, para ser CEO da Apple, perguntando se o executivo queria passar resto da vida vendendo agua com açúcar ou se queria mudar o mundo. Em 1985, Sculley articulou com o conselho da empresa o afastamento do fundador.

steve jobs e suas roupas iguais

Toy Story

Foi um golpe, mas pouco tempo depois Jobs estava de volta ao negócios. Em 1986, ele comprou a divisão de computação gráfica da Lucasfilm, a Pixar, e a transformou numa potencia da animação. Foi sob sua batuta que a empresa lançou Toy Story, em 1995, o primeiro longa 100% animado por computador. A abertura de capital da Pixar transformou Jobs de multimilionário em bilionário. Em 2006, ele vendeu o controle da companhia à Disney.

Paralelamente, o empresário fundou a Next, empresa de computadores voltados ao setor de educação, que em 1996 seria adquirida pela própria Apple. Foi num dos computadores da marca que o criador da World Wide Web, Tim Berners-Lee, desenhou e hospedou a primeira página da rede.

Enquanto isso, a Apple ia de mal a pior. O lançamento do Microsoft Windows, em 1985, parecido com o sistema operacional do Mac, e sua utilização possível em quase todos os PCs, levaram a empresa de Bill Gates ao domínio quase absoluto do mercado em dez anos.

A Microsoft havia trabalhado como fornecedora da Apple durante o desenvolvimento do Mac, e Jobs acusou Gates de ter roubado sua ideia. No entanto, o projeto original de uma interface gráfica do gênero para computadores havia sido criada originalmente pela Xerox e foi nesta fonte que Jobs bebeu. Gates alegou ter feito o mesmo.

Volta do patrão

A Apple estava à beira da falência quando comprou a Next. O então CEO, Gilbert Amelio, chamou Jobs de volta, incialmente como consultor. Em 1997, o fundador se tornaria CEO, cargo que iria ocupar até 2001, às vésperas de sua morte. Uma das primeiras decisões que tomou ao retomar ao comando da companhia foi firmar uma parceria com a Microsoft, do arquirrival Gates, para fornecimento de softwares à Apple.

O primeiro produto de sucesso lançado na segunda passagem de Jobs pela Apple foi o iMac, um computador compacto, colorido, que tinha bom desempenho e preço razoável. Tornou-se o micro mais vendido nos EUA em 1998 e ajudou a tirar a empresa do buraco. Em pouco mais de dez anos depois da volta de Jobs, a Apple se tornaria a maior empresa do mundo em capitalização de mercado, marca que ainda ostenta.

Se desde início Jobs apostava no computador para uso pessoal e como extensão do operador, no novo milênio a Apple entrou de vez no nicho de equipamentos individuais e personalizados com o lançamento do iPod, em 2011.

Reprodutores de música para ouvir sozinho não eram novidade – o próprio Jobs era fã do antigo Walkman, da Sony -, mas pela primeira vez era possível guardar, organizar e ouvir uma quantidade enorme de músicas num aparelho compacto, bonito e fácil de usar. “Com o iPod, sua biblioteca de músicas inteira cabe em seu bolso”, afirmou Jobs no lançamento do produto.

O iPod, aliado ao lançamento da iTunes, a loja de músicas da Apple, marcou a entrada definitiva da companhia no ramo do entretenimento. Em pouco tempo, a companhia passou a ter uma força gigantesca na indústria fonográfica.

Ao longo da primeira década do século 21, a Apple se consolidou como uma marca de produtos amados por seus clientes, um símbolo de status. Em 2007, com a chegada do iPhone ao mercado, a empresa passou a dominar parcela significativa do ramo de telecomunicações, popularizou o uso da internet em dispositivos móveis e catapultou o desenvolvimento de aplicativos para celulares.

A legião de fãs só cresceu, assim como as filas para comprar novos produtos nas lojas da marca – exibidos como troféus. Os lucros e as ações foram para a estratosfera.

O último grande lançamento da Apple sob Jobs foi o iPad, em 2010. No início, houve ceticismo sobre o aparelho, um misto entre computador e celular que não era nem um, nem outro, e foi até chamado de “iPhonão”. Em pouco tempo, porém, tornou-se sucesso de vendas e é um dos principais itens da marca.

O sucesso da Apple no novo século não foi isento de controvérsias. A companhia faturou alto com seus produtos cultuados, mas ao mesmo tempo foi criticada pelas más condições de trabalho nas fábricas que produzem seus aparelhos na China, com baixos salários, jornadas abusivas e até suicídios.

Tim Cook e Steve Jobs
Steve Jobs e Tim Cook falam em uma entrevista coletiva na sede da Apple em Cupertino, Califórnia. (Crédito: Kimberly White/Corbis via Getty Images)

Saúde

Em 2004, Jobs anunciou publicamente que sofria de um grave câncer no pâncreas. Nos anos seguintes, passou por vários tratamentos, cirurgias e até transplante de fígado. Continuou como a face da Apple, embora cada vez mais magro, aparecendo nos eventos públicos com suas calças jeans e inconfundível camisa preta de gola alta. Era quase uma estrela pop. Se afastou do comando pouto tempo antes de morrer, em 05 de outubro de 2011.

Sua morte gerou receios sobre o futuro da companhia, mas Apple segue muito bem sobre o comando de Tim Cook, o sucessor de Jobs.

Além de Lisa, Jobs teve três filhos com Laurene Powell, com quem se casou em 1991. Deixou também uma legião de fãs como órfãos.

Saiba mais

O InfoMoney indica dois documentários para saber mais sobre a trajetória de Steve Jobs

  • Steve Jobs: The Man in the Machine (Diretor: Alex Gibney)
  • The Way Steve Jobs Changed the World (Diretores: Bertrand Deveaud, Lauren Klein e Antoine Robin)