Na hora de investir em alguma ação ou derivativo, as duas principais escolas que auxiliam o investidor a tomar essa decisão são a análise fundamentalista e a análise técnica.

Frequentemente, a análise técnica é vista como o caminho mais curto, pois não depende de muitas equações nem de um extenso estudo sobre o setor, o negócio de uma empresa e suas particularidades, como ocorre na análise fundamentalista.

Nesse guia você vai entender o que é e como utilizar a análise técnica para investir em ações.

O que é análise técnica de ações

Também chamada de análise gráfica, é uma forma de prever os movimentos das ações utilizando-se do histórico delas por meio do gráfico.

A análise técnica foi popularizada pelo jornalista Charles Dow, fundador do Wall Street Journal e que também empresta seu nome ao mais tradicional índice acionário dos Estados Unidos, o Dow Jones.

Para Dow, um investidor que tivesse apenas informações públicas (ou seja, não tivesse acesso a informações privilegiadas) à sua disposição dificilmente conseguiria lucrar com uma ação tentando precificá-la de modo mais eficiente do que o mercado inteiro.

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“Os preços descontam tudo, exceto os atos divinos”, dizia o jornalista.
Isso significa que tirando em casos de eventos imponderáveis como desastres naturais, ataques terroristas ou epidemias, os preços dos ativos sempre refletiriam todas as informações disponíveis em um determinado momento.

Assim, a oscilação nas cotações não teria tanto a ver com a visão dos investidores acerca da condução dos negócios por uma empresa, mas refletiria a percepção psicológica das pessoas que investem a respeito do que é caro ou barato para uma ação.

O gráfico, portanto, seria uma ferramenta mais eficiente para prever para onde vai um ativo, pois mostra historicamente em quais patamares os investidores costumam ficar mais otimistas ou pessimistas com um papel.

Há quem defina a análise técnica como a arte de analisar movimentos que ocorreram no passado para interpretar o presente e projetar o futuro. Em suma, é o estudo dos preços ao longo do tempo.

Para que serve e quem utiliza a análise técnica

A análise técnica é uma estratégia eficiente para quem quer fazer operações de curto prazo. É de certo modo correto dizer que a análise fundamentalista é a ferramenta do investidor, enquanto a análise técnica é a ferramenta do especulador.

Isso porque a imprevisibilidade e às vezes mesmo a irracionalidade que cerca a oscilação de um ativo em períodos mais curtos acaba sendo uma aliada do investidor que olha para o gráfico e não para os fundamentos.

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O objetivo central é identificar uma tendência, operar a favor dela e sair da operação ao verificar sinais de que essa tendência está sendo revertida.

As operações costumam ser feitas ao longo de um dia (day trade), por alguns pregões, durante algumas semanas (swing trade) ou, no máximo, por poucos meses.

Existem três tendências principais que um ativo pode ter em um momento:

  • de alta (acumulação), caracterizada por um gráfico com topos e fundos ascendentes;
  • de baixa (distribuição), quando os topos e fundos estão cada vez mais baixos;
  • de lateralização, que é quando o preço do papel oscila dentro de uma banda bem definida sem subir ou cair muito.

Análise técnica funciona?

Segundo um estudo de Thomas N. Bulkowski realizado por 14 anos em mais de 500 ações americanas, a análise técnica conseguiu prever corretamente de 80% a 90% dos movimentos nas cotações.

Outras pesquisas mostram taxas semelhantes, de modo que há praticamente um consenso acadêmico em pelo menos 70% de efetividade.

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Um dos mais bem sucedidos investidores/especuladores do mundo, George Soros, dono de uma fortuna de US$ 8,6 bilhões de acordo com a revista Forbes, é um usuário convicto dos gráficos em suas operações.

Além de ser um método menos trabalhoso de dominar, a análise técnica é uma ferramenta bastante ágil e objetiva.

Um investidor que analise o gráfico de uma ação pode determinar um preço-alvo no qual venderá a ação com o lucro esperado e um stop loss, patamar em que venderá a ação com um prejuízo aceitável.

Portanto, utilizando-se da ferramenta corretamente, ele pode tirar as emoções de jogo e definir um preço para entrar e um preço para sair da operação.

Leia também: Análise de balanços: o que Warren Buffett avalia nas empresas investidas?

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Críticas à análise técnica

Apesar dos estudos que defendem sua eficácia, não faltam críticas à análise técnica no mercado financeiro.

Muitos analistas fundamentalistas dizem que o pressuposto de que é possível prever o desempenho futuro de um papel conforme seu histórico de preços é completamente equivocado.

Eles afirmam que a performance passada de uma ação é praticamente irrelevante diante de questões da vida real da empresa como a situação do seu caixa, o pagamento de dividendos, o endividamento etc.

Há quem acuse o pensamento de curto prazo defendido pelos analistas técnicos como responsável pelo fracasso da imensa maioria dos day traders, uma vez que muitos entram despreparados e em busca de enriquecimento rápido e acabam queimando o próprio patrimônio.

Porém, grandes defensores da análise técnica como o trader colombiano Oliver Velez, argumentam que o erro desses investidores é psicológico.

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Na opinião dele, a ganância quando se está ganhando dinheiro e o medo quando se está perdendo fazem com que o especulador mude de estratégia sem qualquer embasamento racional durante uma operação, com resultados catastróficos.

“Se eu colocar como regra que não vou ganhar ou perder mais de US$ 50, não há motivo para ter medo. Se você investiu US$ 100 e caiu para US$ 50, você zera a operação sem pensar duas vezes. Se subir para US$ 150, você embolsa o lucro. Se o investidor não fugir da sua estratégia inicial, suas chances de sucesso aumentam consideravelmente.”

Principais gráficos de ações

Existem três gráficos que o investidor pode usar para entender a evolução do preço de uma ação no tempo:

  • gráfico de linhas;
  • gráfico de barras;
  • candlestick.

De todos, o candlestick é o mais utilizado na análise técnica, pois o gráfico de linhas só mostra a evolução dos preços de fechamento sem revelar como se comportou o ativo durante o dia, e o de barras não é eficaz em representar as viradas que ocorrem durante um pregão.

Em um gráfico de candlestick, cada uma das barras parecidas com velas (por isso se chamam candles) representa o movimento de um ativo em um determinado período.

Em um gráfico diário, o corpo, que é a parte grossa do candle, mostrará o quanto a ação subiu ou caiu da abertura até o fechamento. Se o candle for branco, verde ou azul, o dia foi de alta, se for preto ou vermelho, o dia foi de queda.

Já o fio que sai do candle é o movimento não predominante do ativo naquele período. Ou seja, os momentos em que a ação operou com queda em relação ao nível de abertura em um dia no qual fechou em alta ou o avanço momentâneo do papel em um dia de baixa.

Indicadores da análise técnica

Para saber quando há uma mudança de tendência apenas olhando para o gráfico, os analistas técnicos identificaram uma série de padrões.

Suporte e resistência

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O mais famoso e mais utilizado é o de suporte e resistência. Os suportes são regiões de preço que costumam atrair compradores sempre que a ação atinge aquele patamar. Ou seja, o papel sobe após atingir aquela cotação.

Suporte e resistência - Gráfico de Análise Técnica de Ações
(Arte: Leonardo Albertino/InfoMoney)

As resistências, ao contrário, são regiões de preços que costumam atrair vendas. Ou seja, a ação geralmente cai após bater naquela cotação.

Figura

Uma regra importante na análise técnica é a da bipolaridade, que significa que o suporte, quando rompido se torna uma resistência e a resistência, quando superada, torna-se um suporte.

Figuras de alta/baixa

Há também as figuras formadas pelos candles que geralmente são seguidos por uma alteração no comportamento dos preços.

Entre os padrões de mudança de tendência para alta alguns são nomes bastante famosos como o engolfo, que ocorre quando a mínima, a máxima e todo o corpo do candle de um período são mais relevantes que o candle do período anterior. Sinal de que a ação deve começar a subir.

Engolfo de alta - Gráfico de Análise Técnica de Ações
(Arte: Leonardo Albertino/InfoMoney)

O martelo, que é um candle com longa sombra para baixo, em torno de 2,5 vezes maior que o corpo do candle. Entre outras figuras.

Martelo - Gráfico de Análise Técnica de Ações
(Arte: Leonardo Albertino/InfoMoney)

Já os padrões de baixa mais famosos são o engolfo em que a máxima registrada em um pregão é maior que a da sessão anterior, mas o ativo fecha em baixa com uma mínima menor que a do dia anterior.

Engolfo de baixa - Gráfico de Análise Técnica de Ações
(Arte: Leonardo Albertino/InfoMoney)

A estrela cadente, que é como um martelo, porém invertido. Entre outras figuras.

Estrela cadente - Gráfico de Análise Técnica de Ações
(Arte: Leonardo Albertino/InfoMoney)

É importante ressaltar a importância de se combinarem indicadores de análise técnica para aumentar o grau de assertividade sobre um determinado movimento. É raro encontrar traders que entrem em uma operação só por identificarem um candle com figura promissora. O mais comum é que usem essas figuras de forma complementar a indicadores como suporte e resistência, médias móveis, IFR e Bandas de Bollinger.

Outro ponto a se destacar é que uma figura de reversão de tendência tem maior chance de estar correta quanto maior for o volume de negócios do ativo quando essa figura apareceu.

Por isso, os analistas técnicos sempre ou quase sempre colocam a evolução do volume na parte de baixo do gráfico.

Médias Móveis

Um dos indicadores mais utilizados em análise técnica é o de médias móveis. Como o próprio nome diz, ele funciona tirando a média dos preços de um ativo durante um determinado período.

Por exemplo, um traçado de médias móveis de dois dias é formado pelos preços médios do papel nos dois dias anteriores. Ao colocar em um gráfico de candlestick, as médias móveis aparecem como linhas que evoluem junto com a cotação do ativo.

Há dois tipos de médias móveis possíveis, as aritméticas e as exponenciais. A diferença da segunda para a primeira é que nas médias móveis exponenciais os preços mais recentes possuem peso maior que os preços mais antigos.

Existem diversas estratégias possíveis com médias móveis. Os analistas técnicos lembram que os preços de um ativo não ficam por muito tempo longe das médias móveis, e quando se distanciam muito costumam retornar para a linha da média.

Média móvel nos preços e volume -Gráfico de Análise Técnica de Ações
(Arte: Leonardo Albertino/InfoMoney)

Outra estratégia bastante utilizada é colocar mais de uma média móvel no gráfico. É comum o uso, por exemplo, de uma média móvel de 20 ou 21 períodos e outra de 200.

A analista Pamela Semezzato, da Rico Investimentos, conta que usa as médias destes dois períodos porque mostram uma região de interesse para retomada de uma tendência.

“Se o ativo está em tendência primária de alta, é normal que o preço se afaste da média aritmética de 200 períodos no gráfico diário ou semanal. Em momentos como o da crise do coronavírus em março pudemos perceber que muitos ativos lateralizaram nessa média de 200, por isso foi possível detectar uma mudança de tendência”, explica.

Bandas de Bollinger

As Bandas de Bollinger são indicadores estatísticos de volatilidade complementares às médias móveis, mostrando a dispersão dos preços de um ativo. Ou seja, calculam os desvios-padrão da distribuição normal de preços para definir o quanto as cotações podem ficar acima ou abaixo da média móvel.

No gráfico, as Bandas de Bollinger aparecem como bandas superiores e inferiores que acompanham uma linha central que, normalmente (na calibragem padrão), é a média móvel de 20 períodos.

Toques nas bandas - Tendência de alta - Gráficos de Análise Técnica de Ações
(Arte: Leonardo Albertino/InfoMoney)

A estratégia prática relacionada às Bandas de Bollinger é verificar quando o candle dos preços encosta na banda inferior ou superior das bandas, afastando-se da média móvel.

Se a cotação bate na banda inferior, o normal é voltar a subir em direção à média, e quando toca na superior é frequente que caia de novo em direção à média.

Pamela lembra que como as bandas calculam dois desvios-padrão, o preço trabalha 95% do tempo dentro das bandas, de acordo com o que ocorre em qualquer distribuição normal estatística.

Índice de Força Relativa

Já o Índice de Força Relativa (IFR) é um oscilador, cujo objetivo principal é mostrar regiões de sobrecompra ou sobrevenda de um ativo. Ele relaciona a média das cotações nos últimos “n” dias em que o papel subiu dividido por “n” com a média nos últimos “n” dias em que a ação caiu também dividida por “n”.

A escala de variação do IFR é de 0 a 100 e a região considerada como sobrecompra, onde o papel tende a cair para voltar a um padrão razoável de negociação, é acima de 70. Já a zona chamada de sobrevenda, na qual a ação deve subir, é aquela abaixo de 30.

O IFR aparece como um traçado dentro de uma escala na parte de baixo de um gráfico.

IFR Índice de Força Relativa - Gráfico de Análise Técnica de Ações
(Arte: Leonardo Albertino/InfoMoney)

Fibonacci

Baseado nas conclusões do matemático Leonardo Fibonacci a partir do estudo do crescimento de uma população de coelhos no século XIII, o método de Fibonacci na análise técnica se apropria da proporção áurea (1,618) para indicar a magnitude do próximo movimento de impulsão ou correção de um ativo.

Chama-se impulsão o movimento a favor da tendência, como uma alta dentro de uma tendência ascendente ou uma queda em uma tendência descendente. Já as correções são os movimentos de queda dentro de uma tendência de alta ou de alta dentro de uma tendência de queda.

Ao se projetar Fibonacci em um gráfico, o investidor pode traçar o tamanho da impulsão anterior a partir do seu fundo ou topo para tentar prever para onde vai o papel na trajetória atual.

Projeção de Fibonacci - Gráficos de Análise Técnica de Ações
(Arte: Leonardo Albertino/InfoMoney)

Com isso, vão aparecer no gráfico cinco linhas horizontais: a primeira parte do topo ou fundo do movimento anterior; a segunda representa 38,2% (nada mais que 100 – 61,8 da proporção áurea) daquele movimento; a terceira é 50% da trajetória; a quarta é 61,8% (a própria proporção áurea); e a quinta é 100% do movimento anterior.

Pode-se projetar ainda uma sexta linha que é a dos 161,8%, chamada de expansão de Fibonacci, que costuma ser usada pelos traders como o alvo da operação.

Vale lembrar que é impossível adivinhar quando um ativo atingiu seu fundo ou topo, então Fibonacci é sempre projetado quando já há sinais suficientes de que uma nova tendência se formou. Ao contrário de outras ferramentas, ele não serve para apontar reversões de tendência.

O analista Giba Coelho, da XP Investimentos, é um entusiasta de entradas quando o ativo atinge a terceira linha de Fibonacci, a dos 50% da trajetória anterior. Sua estratégia consiste em comprar a ação quando ela está sobre a linha dos 50% e colocar como alvo de venda a linha dos 161,8%. Já o stop loss, que é o ponto de zeragem para minimizar as perdas da operação ele coloca na segunda linha, a dos 38,2%.

Livros e cursos para estudar análise técnica

Em termos de bibliografia, o livro indicado pela Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (Apimec) é o Análise Técnica Clássica, de Flávio Lemos.

Outro clássico sobre o tema é o livro Análise Técnica Explicada, de Marting J. Pring.