Cadeia da carne no país levará ao menos 18 meses para se reestruturar, diz gestora

A conclusão da TCP Latam foi obtida após pesquisa junto a pecuaristas, frigoríficos, transportadores, curtumes e fabricantes de insumos

Reuters

Bandeja de carne vermelha (Shutterstock)

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Por Roberto Samora

SÃO PAULO (Reuters) – A cadeia produtiva da carne bovina no Brasil, afetada por preços baixos do gado, endividamento crescente, aumento na ociosidade e notícias como a delação da cúpula da JBS, levará ao menos um ano e meio para se reestruturar, avaliou nesta segunda-feira a TCP Latam, companhia especializada em reestruturação de empresas.

A conclusão da TCP Latam foi obtida após pesquisa junto a pecuaristas, frigoríficos, transportadores, curtumes e fabricantes de insumos como ração e medicamentos, e dá uma ideia do período de dificuldades que coloca em xeque o setor líder na exportação global de carne bovina.

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“A cadeia produtiva como um todo está desordenada, o setor está passando por um estresse, e o estresse vai ser mitigado nos próximos 18 meses, com um reordenamento da oferta e demanda… E nesse processo os frigoríficos médios e pequenos vão ter um papel importante”, disse à Reuters o diretor de Investimentos e Estudos Econômicos da TCP Latam, Ricardo Jacomassi.

No processo de reestruturação, no entanto, seria necessário um apoio governamental aos pequenos e médios frigoríficos que sofrem com custos elevados de capital de giro, disse o diretor da gestora de reestruturação de empresas, sem entrar em detalhes sobre qual instrumento o governo poderia utilizar no auxílio.

“Conversei com quase uma dezena de frigoríficos em Mato Grosso, eles não têm linha (de financiamento) e as linhas existentes estão muito caras.”

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Enquanto a gigante JBS sofre as consequências de incertezas geradas pela delação de sua cúpula, que envolveu o presidente Michel Temer e importantes políticos –muitos pecuaristas têm evitado vender ao frigorífico–, por outro lado outras empresas grandes como Marfrig e Minerva podem se beneficiar de uma situação de preços mais baixos da arroba bovina.

As companhias de maior porte poderiam reabrir unidades que estavam fechadas, numa tentativa de preencher um vácuo deixado pela JBS, como já aconteceu com a Minerva.[nL1N1JA20Q]

 

PREÇO DA ARROBA

Para o ano de 2017, a TCP Latam projeta o valor médio da arroba bovina de 119,3 reais, redução de 22 por cento em relação ao recorde do ano anterior, enquanto vê um declínio anual de 15 por cento nos abates no país, para 25,2 milhões de cabeças, numa sequência de quedas que vem desde 2013, quando somaram 34,4 milhões.

Segundo o especialista da TCP, sócia da rede internacional BTG Global Advisory, de forma geral os pecuaristas têm problemas sérios de gestão e não conseguiram aproveitar os bons preços da arroba no ano passado.

“Alguns pecuaristas com os quais estamos trabalhando na reestruturação da dívida, praticamente não tem nem balanço… E aí veio a crise, esse cara ficou descoberto”, disse ele, lembrando que os produtores de gado também enfrentam dificuldades para pagar suas dívidas.

O estudo também citou impactos da Operação Carne Fraca, da Polícia Federal, que investigou irregularidades no setor.