De olho em reformas, Ibovespa fica “travado” entre disparada da Vale e queda da Petrobras

Após derrocada da véspera, mercado fica estável aguardando sinais da política doméstica e as duas blue chips acabam definindo o rumo do da bolsa

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – Após operar em alta durante toda a manhã, o Ibovespa virou para queda no começo da tarde desta quarta-feira (21), acompanhando o movimento do petróleo no mercado internacional e os principais índices acionários globais. Enquanto isso, no Brasil os investidores seguem atentos aos andamentos das reformas do governo, com aumento da tensão após a derrota em Comissão do Senado na véspera.

O benchmark da bolsa brasileira fechou com leve queda de 0,01%, aos 60.761 pontos, com o índice operando entre ganhos de 3,5% da Vale e a queda de 2% da Petrobras. O volume financeiro na B3 ficou em R$ 7,213 bilhões. Mais cedo o índice chegou a sinalizar recuperação, superando os 61 mil pontos, após o trauma da derrota sofrida pelo governo na véspera em comissão do Senado, que rejeitou relatório referente à reforma trabalhista.

Já os contratos de juros futuros com vencimento em janeiro de 2018 caíram 2 pontos-base, a 9,02%, ao passo que os DIs com vencimento em janeiro de 2021 avançaram 4 pontos-base, a 10,15%. Os contratos de dólar futuro com vencimento em julho deste ano subiram 0,13%, sinalizando cotação de R$ 3,339, enquanto o dólar comercial subiu 0,05%, para R$ 3,3326.

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Ontem, Ibovespa caiu 2,01%, fechando no menor fechamento desde 2 de janeiro deste ano. Com isso, a alta do índice em 2017 é de apenas 0,97% — entre março e maio, esse desempenho chegou a ser positivo em 15%.

Neste pregão, os investidores acompanharam a divulgação de fatos novos contra o presidente Michel Temer e mais um mergulho do petróleo mesmo após dados de estoque abaixo do esperado nos Estados Unidos. O mercado continua preocupado sobre o volume de produção da commodity. Do começo do ano para cá, os barris de petróleo já caíram cerca de 20%, no pior desempenho para o primeiro semestre desde 1997.

Destaques da Bolsa

Do lado acionário, os papéis da Petrobras (PETR3; PETR4) viraram para queda, acompanhando o movimento do petróleo no mercado internacional, após divulgação de dados dos estoques nos EUA e em meio às especulações sobre a possibilidade de os países-membros da Opep acordarem um corte mais intenso nos preços. 

Os estoques da commodity diminuíram 2,45 milhões de barris na semana encerrada em 16 de junho, segundo dados divulgados pela EIA (Agência Internacional de Energia, na sigla em inglês). A mediada das estimativas da Bloomberg indicava queda de 1,01 milhão de barris. Na semana passada o indicador apontou para 1,66 milhão de barris de redução.

No radar da estatal, conforme destaca o jornal O Globo, a Petrobras está concentrando esforços nas negociações para fechar acordos com sete investidores que entraram com ações individuais na Justiça americana contra a estatal. Porém, apesar da disposição para o diálogo, a empresa ainda terá de lidar com uma ação coletiva (class action) na Corte Federal de Nova York, que está suspensa desde agosto do ano passado e que pode pesar sobre as contas da empresa. Segundo fontes ligadas à estatal ouvidas pelo jornal, não há chance de negociação com o escritório que coordena a ação, o Pomerantz.

As ações da Vale (VALE3; VALE5) subiram acompanhando os preços do minério de ferro. Nesta sessão, os contratos futuros do minério de ferro negociados na bolsa chinesa de Dalian fecharam em alta de 0,46%, a 434 iuanes, enquanto o minério de ferro à vista negociado no porto de Qingdao, na China, subiu 0,66%, a US$ 56,82 a tonelada. Acompanharam o movimento as ações da Bradespar (BRAP4) — holding que detém participação na mineradora –, assim com as siderúrgicas.

A fusão entre os grupos de ensino Kroton (KROT3) e Estácio (ESTC3) pode ser reprovada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), informa o Valor. A possibilidade de veto é real e discutida internamente na autoridade antitruste.

De acordo com fontes ouvidas pelo jornal, somente a relatora do caso, Cristiane Alkmin, é a favor da fusão com restrições – a principal seria a venda da Anhanguera, instituição adquirida pela Kroton em 2014. Outro conselheiro, João Paulo de Resende, é totalmente contrário à transação e os demais integrantes do colegiado, Alexandre Cordeiro, Paulo Burnier e Gilvandro Araújo devem acompanhá-lo.

As maiores altas, dentre as ações que compõem o índice Bovespa, foram:

 Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 JBSS3 JBS ON 6,31 +4,99 -44,47 158,14M
 BRAP4 BRADESPAR PN 18,43 +3,54 +27,17 41,43M
 VALE5 VALE PNA 24,90 +3,49 +17,81 743,48M
 GOAU4 GERDAU MET PN 4,46 +3,24 -7,08 56,49M
 VALE3 VALE ON 26,47 +2,96 +13,82 70,11M

As maiores baixas, dentre os papéis que compõem o índice Bovespa, foram:

 Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 ESTC3 ESTACIO PARTON 14,65 -7,28 -5,67 133,77M
 KROT3 KROTON ON 13,36 -3,54 +1,62 199,59M
 QUAL3 QUALICORP ON 30,60 -2,70 +62,50 46,61M
 SMLE3 SMILES ON 60,60 -2,53 +45,37 92,99M
 RENT3 LOCALIZA ON 42,46 -2,48 +30,88 55,42M

As ações mais negociadas, dentre as que compõem o índice Bovespa, foram:

 Código Ativo Cot R$ Var % Vol1 Vol 30d1 Neg 
 VALE5 VALE PNA 24,90 +3,49 743,48M 501,54M 32.126 
 PETR4 PETROBRAS PN 11,64 -1,86 692,35M 563,16M 42.617 
 ITUB4 ITAUUNIBANCOPN 35,58 +0,11 264,09M 456,21M 20.052 
 CIEL3 CIELO ON 24,20 +1,85 255,93M 141,17M 17.296 
 ABEV3 AMBEV S/A ON 18,13 +0,33 214,75M 321,53M 32.052 
 BBAS3 BRASIL ON EJ 25,86 -0,54 211,41M 239,13M 16.041 
 BBDC4 BRADESCO PN 26,30 -0,57 209,13M 297,62M 25.355 
 KROT3 KROTON ON 13,36 -3,54 199,59M 137,38M 28.663 
 JBSS3 JBS ON 6,31 +4,99 158,14M 251,81M 36.930 
 BBSE3 BBSEGURIDADEON 28,37 +0,18 140,44M 126,27M 8.927 

* – Lote de mil ações
1 – Em reais (K – Mil | M – Milhão | B – Bilhão)
IBOVESPA

Noticiário político
Michel Temer também segue em destaque em meio ao noticiário “policial” contra ele. O operador financeiro Lúcio Funaro afirmou, em depoimento à Polícia Federal, que o presidente orientou diretamente a distribuição de 20 milhões de reais em propinas para sua campanha à reeleição como vice-presidente da República, em 2014, e para a do ex-deputado Gabriel Chalita à prefeitura de São Paulo, em 2012. 

De acordo com Funaro, que está preso há um ano em Brasília, os 20 milhões que foram distribuídos entre a campanha de Temer e de Gabriel Chalita eram fruto de uma negociação na vice-presidência de Fundos de Governo e Loterias (Vifug) da Caixa, uma das controladas pelo PMDB, para liberar recursos do fundo FI-FGTS para as empresas BRVIAS e LLX.

Além disso, o juiz Marcus Vinicius Reis Bastos, titular da 12ª Vara da Justiça Federal no Distrito Federal, rejeitou a queixa-crime do peemedebista contra Joesley Batista, dono da JBS, pelas supostas práticas de calúnia, injúria e difamação, informou a Justiça Federal em mensagem da sua assessoria de imprensa.

A decisão menciona “ausência de justa causa para se instaurar a ação criminal, fato que impõe a rejeição da queixa-crime” Intento de Joesley é o de corroborar declarações que prestou ao MPF, segundo apontou o juiz na decisão. 

Vale destacar ainda que o STF (Supremo Tribunal Federal) decide hoje sobre a validade dos acordos de delação da JBS firmados com o Ministério Público e também se o caso deve permanecer nas mãos do ministro Edson Fachin. Na sessão, os ministros discutem os limites da atuação dos juízes que são responsáveis pela homologação das delações premiadas.

Segundo a coluna Painel, da Folha de S. Paulo, Fachin deve ser mantido da delação da JBS no Supremo. Porém, corre sério risco de ver o Supremo abrir caminho para a modificação dos termos do acordo que ele homologou com a empresa. A forte divisão na corte será expressa na segunda etapa do julgamento, quando eles discutirão a possibilidade de o plenário rever as condições ofertadas aos colaboradores. De acordo com a publicação, o desfecho do caso é visto pelo governo e pela Lava Jato como um divisor de águas para a operação.

Ainda no noticiário sobre o presidente, destaque para relatório entregue pela Polícia Federal ao Supremo Tribunal Federal, que diz que as evidências colhidas na investigação indicam “com vigor” que Temer cometeu crime de corrupção passiva. O documento, tornado público na última terça-feira, diz que o peemedebista aceitou pagamentos de vantagens indevidas do grupo J&F por intermédio do ex-assessor especial Rodrigo Rocha Loures.

No texto, a PF também lembra as tentativas, sem sucesso, de interrogar a dupla. “Diante do silêncio do mandatário maior da nação e de seu ex-assessor especial, resultam incólumes as evidências que emanam do conjunto informativo formado nestes autos, a indicar, com vigor, a prática de corrupção passiva”, expôs o texto enviado pela PF ao STF.

(Com Reuters, Bloomberg, Agência Estado e Agência Brasil)

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.