Da tensão à euforia: os 4 atos que resumem o “vai e vem” do Ibovespa nesta quarta

Mercado começou em alta, para em seguida desanimar e esboçar virar para o negativo em seguida subir forte novamente

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – O pregão do Ibovespa nesta quarta-feira (16) foi digno de um roteiro de série de televisão, cheio de reviravoltas: o otimismo da manhã com a divulgação da nova meta fiscal logo se tornou preocupação com o futuro, para em seguida o Federal Reserve voltar a empolgar os investidores e no fim o índice fechar com gostinho de “quero mais”, para saber para onde o mercado realmente vai agora.

Foram quatro atos (ou momentos) bem definidos entre as sete horas de pregão que comprovaram que o mercado segue bastante temeroso com a política e o futuro da economia após o governo revisar a meta e a S&P comentar o que pode levá-la a cortar o rating do País. Mas nem por isso outros eventos serão ofuscados, com a chance de ajudarem no alívio na bolsa.

Confira os 4 atos do mercado nesta sessão:

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Ato 1 – Euforia
A abertura foi de grande otimismo em reflexo do anúncio do governo do aumento da meta de déficit fiscal de 2017 e 2018 para R$ 159 bilhões. Originalmente, a meta de déficit estava fixada em R$ 139 bilhões para este ano e em R$ 129 bilhões para o ano que vem. Além disso, as projeções para 2019 e 2020 também foram alteradas: para para R$ 139 bilhões e déficit de R$ 65 bilhões, respectivamente.

Com isso, o Ibovespa chegou a subir 0,7% entre a abertura até o fim da manhã, por volta do meio-dia. Para o gestor da GGR Investimentos, Rafael Sabadell, o mercado viu com bons olhos o esforço do governo em reduzir gastos e entregar um resultado em linha com o esperado, o que culminou em uma reação positiva nas primeiras horas.

Veja o gráfico do início do pregão:

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Ato 2 – Nem tudo é tão bom
No início da tarde o mercado perdeu força rapidamente, no que parece ter sido um “efeito retardado” ao anúncio do governo. De olho no que a S&P falou logo após o governo elevar a meta fiscal, investidores começaram a ver que nem tudo parecia tão bom e algumas preocupações ainda estavam presentes.

Logo após o anúncio, a S&P retirou a nota de risco soberano do Brasil do status de observação negativa (CreditWatch negativo), mas manteve a perspectiva negativa e o rating em “BB” (dois patamares abaixo do grau de investimento). Segundo o gestor da GGR Investimentos, a retirada foi motivada pela questão política, que ‘foi resolvida’ com a manutenção de Michel Temer no poder. Assim, uma mudança de perspectiva, que de fato altera a percepção de risco para o Brasil, depende do andamento da agenda de reformas, uma das grandes incógnitas deste governo.

De acordo com Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset, o fato das mudanças ainda dependerem do fator político, onde parte dos “cartuchos” de Temer foram gastos para se manter no poder, eleva o nível de incerteza. Com isso, Meirelles tende a tomar novamente o protagonismo nas negociações com o Congresso, porém não há tempo hábil para isso.

De olho nestas preocupações, o Ibovespa zerou os ganhos, veja:

Ato 3 – Fed empolga os investidores
Marcada para 15h, a divulgação da ata da última reunião do Fomc começou a animar o mercado cerca de uma hora antes, principalmente com as ações dos bancos ganhando força. Com o Federal Reserve falando em “paciência” com a alta de juros, indicando que a elevação pode não acontecer este ano como previsto anteriormente, a bolsa ganhou força e o dólar passou a cair forte.

A maioria dos diretores do Federal Reserve disseram preferir esperar até a “próxima” reunião do Fomc, em setembro, para decidir sobre o início da redução do balanço de pagamento de US $ 4,5 trilhões de títulos da autoridade americana, segundo mostrou a ata do último encontro do Fomc.

O Fed também se dedicou a um debate profundo sobre leituras de inflação surpreendentemente baixas, com alguns dizendo que o banco poderia “se dar ao luxo de ser paciente” antes de aumentar as taxas de juros novamente. Com a novidade, o Ibovespa chegou a subir 0,87%, na máxima do dia, enquanto o dólar passou a cair, na casa de R$ 3,15.

Veja o momento:

Ato 4 – Final “sem rumo”
Na última hora de pregão, o Ibovespa acabou perdendo força novamente, encerrando no meio do caminho entre sua máxima e mínima do dia, em uma mistura de otimismo com o Fed, mas de grande preocupação com o futuro da economia e os ainda altos riscos de corte de rating.

Para o Credit Suisse, a decisão do governo de aumentar a meta de 2019 e 2020 confirma o enfraquecimento do processo de consolidação fiscal e acreditam que as metas anunciadas serão difíceis de serem cumpridas, possibilidade que não descartada, segundo o gestor da GGR, já que o governo está perdendo margem de manobra para novos cortes: “se a arrecadação continuar decepcionado, deve haver uma revisão”, alerta Sabadell.

Em relatório, Alberto Ramos, economista do Goldman Sachs, afirmou que a nova meta fiscal é mais realista, mas decepcionante ao expor uma difícil realidade fiscal e uma desconcertante incapacidade de se fazer uma redução eficiente dos gastos públicos: “o ajuste do déficit fiscal de 2017 até 2020 atesta a dificuldade do País em promover a consolidação fiscal”, afirma Ramos. Pela sua projeção, o Brasil só terá superávits suficientes para reverter a trajetória da dívida pública em 2024.

O dólar, por sua vez, manteve a forte queda puxado pelas declarações do Fed, fechando em sua mínima do dia, abaixo de R$ 3,14. Confira a reta final do Ibovespa nesta quarta-feira:

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.