Ibovespa azeda e dólar salta 1% com derrocada em Wall Street: só correção ou mercado perdeu o gás?

Índice teve forte queda após quatro dias de ganhos, quando chegou aos níveis pré-delação de Joesley Batista

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – Depois de quatro pregões em alta e chegando perto dos 69 mil pontos pela 1ª vez desde 23 de fevereiro, o Ibovespa fechou em forte queda nesta quinta-feira (17). Os motivos para esse recuo, no entanto, têm feito os investidores se dividirem entre em apenas uma correção do mercado, tendo em vista os sinais de manutenção da política monetária expansionista pelo Fed e BCE (Banco Central Europeu), ou se o fôlego do rali do Ibovespa chegou ao fim.

O benchmark da bolsa brasileira fechou com perdas de 0,90%, aos 67.977 pontos, próximo da mínima do dia – quando caiu 1,06% – e sem operar no positivo em nenhum momento do pregão. O volume financeiro ficou em R$ 7,534 bilhões. Nos EUA, os três principais índice amargaram fortes perdas de mais de 1%, com o Nasdaq afundando 1,94%, na maior queda em três meses.

Tanto eventos domésticos quanto internacionais estão afetando o índice. Por aqui, os investidores seguem preocupados com a trajetória da dívida pública, dúvida que “assombra” o mercado desde o final do mês passado, como também avalia o resultado do IBC-Br (Índice de Atividade do Banco Central) de junho, que ficou abaixo do esperado pelo mercado.

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Lá fora, os principais índices de ações recuaram com a especulação crescente de que a agenda de crescimento econômico prometida por Donald Trump está em risco, após o presidente dos EUA se desfazer de 2 conselhos do setor privado e criticar parlamentares republicanos que se manifestaram contra aos comentários dele sobre o caso de intolerância racial em Charlottesville.

Os juros futuros com vencimento em janeiro de 2018 registraram alta de 1 ponto-base, cotados a 8,125%, enquanto os contratos de janeiro de 2021 saltaram 10 pontos, negociados a 9,51%. Além disso, o dólar futuro com vencimento em setembro marcou valorização de 0,79%, a R$ 3,188, enquanto o dólar comercial subiu 1,02%, a R$ 3,1785 na venda.

Cenário doméstico

Pela manhã, o Banco Central apresentou o IBC-Br, que é considerado uma “prévia” do PIB (Produto Interno Bruto). Entre maio e junho, o índice registrou crescimento de 0,5%, enquanto o mercado esperava avanço de 0,7% no período. Contudo, no segundo trimestre, a ‘prévia’ do PIB (Produto Interno Bruto) apontou que a economia cresceu 0,25% no período e revela que a economia está em processo – ainda que lento – de recuperação, destaca André Muller, economista da AZ Quest. Os números oficiais do PIB do segundo trimestre serão divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) somente no dia 1º de setembro.

Grande dúvida dos investidores desde o mês passado, os economistas estão receosos com o futuro das contas do governo mesmo após a revisão das metas fiscais anunciada pelo governo. Para o Credit Suisse, a decisão do governo de aumentar a meta de 2019 e 2020 confirma o enfraquecimento do processo de consolidação fiscal e acredita que as metas anunciadas serão difíceis de serem cumpridas. Já para Alberto Ramos, economista do Goldman Sachs, a nova meta fiscal é mais realista, mas decepcionante e atesta a dificuldade do País em promover a consolidação fiscal. Para ele, o Brasil só terá superávits suficientes para reverter a trajetória da dívida pública em 2024, com chance de ser após isso.

Temer ainda tem no radar mais uma dificuldade: aprovar as revisões das metas. O governo tem contra si a insatisfação dos aliados na CMO (Comissão Mista de Orçamento), onde começa a tramitar a proposta de revisão da meta. Por outro lado, a equipe econômica quer endurecer o discurso com o Congresso e dirá que, sem a expansão do deficit, serviços serão cortados e emendas parlamentares congeladas. Apesar dessa pressão dos parlamentares, para o economista da AZ Quest isso não deve ser um problema para o governo e Temer possui base suficiente para aprovar o texto.

Além da meta, a delação do doleiro Lúcio Funaro “tira o sono” do governo. Funaro falou que existem impasses para o fechamento do acordo, que, por isso, não tem ainda previsão para ocorrer. Ontem, o doleiro deu a entender que ainda tem coisas para revelar e que podem envolver Temer. Ainda sobre delações, a Folha informa que a Procuradoria avalia reabrir negociação de acordo de delação premiada de Eduardo Cunha.

Destaques do mercado
Do lado negativo, destaque para as ações da Eletrobras (ELET3), que recuam após notícia de que a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) vai cobrar R$ 3 bilhões do grupo por conta de cobranças irregulares feitas nos últimos anos pela estatal. Na outra ponta, as ações de Suzano (SUZB5) e Fribria (FIBR3) seguem subindo com novos rumores de fusão entre as fabricantes de papel e celulose.

As maiores baixas, dentre as ações que compõem o Índice Bovespa, foram:

 Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 JBSS3 JBS ON 8,34 -4,14 -26,61 61,38M
 SANB11 SANTANDER BRUNT 26,95 -2,92 -3,86 25,67M
 ECOR3 ECORODOVIAS ON 10,52 -2,68 +30,47 40,48M
 BRFS3 BRF SA ON 40,42 -2,58 -16,23 125,09M
 BBSE3 BBSEGURIDADEON EDR 26,45 -2,43 -3,81 134,22M

As maiores altas, dentre os papéis que compõem o Índice Bovespa, foram:

 Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 ESTC3 ESTACIO PARTON 21,77 +3,08 +40,18 308,29M
 QUAL3 QUALICORP ON 34,20 +2,70 +81,62 91,07M
 LAME4 LOJAS AMERICPN 16,81 +1,76 -0,97 147,24M
 KROT3 KROTON ON 17,93 +1,19 +36,38 234,18M
 USIM5 USIMINAS PNA 5,97 +1,02 +45,61 110,08M

As ações mais negociadas, dentre as que compõem o índice Bovespa, foram:

 Código Ativo Cot R$ Var % Vol1 Vol 30d1 Neg 
 VALE3 VALE ON ATZ 31,20 -1,67 441,71M 261,18M 21.386 
 VALE5 VALE PNA ATZ 29,31 -1,41 408,66M 432,18M 19.541 
 ITUB4 ITAUUNIBANCOPN EJ 39,49 -0,80 387,17M 351,66M 21.375 
 ESTC3 ESTACIO PARTON 21,77 +3,08 308,29M 79,26M 11.290 
 PETR4 PETROBRAS PN 13,05 -0,61 303,73M 403,84M 19.880 
 KROT3 KROTON ON 17,93 +1,19 234,18M 146,11M 24.767 
 CIEL3 CIELO ON 22,90 -1,93 214,44M 168,13M 13.821 
 BBDC4 BRADESCO PN 32,11 -0,83 210,49M 282,44M 17.439 
 BBAS3 BRASIL ON 30,15 -1,76 179,53M 189,19M 15.692 
 ITSA4 ITAUSA PN EJ 9,81 -0,81 163,75M 152,12M 16.362 

* – Lote de mil ações
1 – Em reais (K – Mil | M – Milhão | B – Bilhão)
IBOVESPA

Reforma política também foi adiada
A sessão para aprovação da Reforma Política foi encerrada e a votação do texto-base foi adiada. Maia resolveu encerrar a sessão ao considerar o quórum de 430 deputados baixo – nas negociações durante o dia, o presidente da Câmara havia acordado que a PEC só seria votada com 480 deputados em plenário. Ele agendou a próxima sessão para a noite da próxima terça-feira (22).

A PEC propõe a mudança do sistema proporcional para as eleições de deputados e vereadores para a modalidade chamada “distritão”, no qual são eleitos os candidatos mais votados, sem considerar a proporcionalidade dos votos recebidos pelos partidos e coligações. Além disso, está no texto a criação de um fundo para financiar as campanhas eleitorais a partir de 2018. Para ter efeito nas eleições de 2018, a PEC tem que ser aprovada pela Câmara e pelo Senado, em dois turnos de votação em cada uma das Casas e promulgada até o dia 7 de outubro, um ano antes das eleições em primeiro turno.

Bolsas mundiais

Depois do movimento de alta dos últimos dias, os principais índice de ações recuaram, digerindo a ata da última reunião do Federal Reserve e do BCE (Banco Central Europeu), essa publicada nesta manhã. O documento revelou que a autoridade monetária europeia deve estender o programa de recompra de ativos além do prazo previsto (dezembro deste ano). Além disso, o conselho destacou o bom ritmo de crescimento da Zona do Euro, que se acelerou nesse começo de ano, mas também a queda nas taxas de inflação e nas projeções de inflação para o final do ano. 

No mesmo tom, a ata do Fed publicada na tarde da última quarta-feira (16) revelou que os membros continuam preocupados com a tendência de baixa da inflação nos EUA, gerando dúvidas sobre a possibilidade de que haja um novo aumento de juros ainda este ano. Portanto, segue a expectativa pela manutenção do ritmo de expansão monetária.

Além disso, com as menores preocupações com a recente troca de ameaças entre EUA e Coreia do Norte, a atenção se volta agora para a nova crise política em Washington. Ontem, o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou o fim de dois conselhos formados por executivos proeminentes. A decisão veio após vários integrantes dos conselhos renunciarem na esteira da coletiva de terça-feira em que Trump culpou “os dois lados” por conflitos violentos ocorridos durante uma marcha de supremacistas realizada no fim de semana em Charlottesville, na Virgínia.

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.