Disparada de 50% da Eletrobras guia rali de Ibovespa; dólar salta com adiamento da TLP

Notícia dada na noite da véspera afeta todo o mercado, desde ações estatais até dólar e juros futuros

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – Se na véspera uma série de notícias azedaram o humor do mercado, nesta terça-feira (22) uma novidade sustentou o maior patamar do Ibovespa em mais de seis anos. Ainda na noite de ontem, o governo anunciou a proposta de desestatização da Eletrobras, o que está fazendo as ações da companhia elétrica disparar mais de 40% nesta sessão.

O benchmark da bolsa brasileira fechou com ganhos de 2,01%, aos 70.011 pontos, passando com folga a máxima do ano (antes em 69.487 pontos) e chegando a níveis não vistos desde 6 de abril de 2011. O volume financeiro deste pregão ficou em R$ 11,690 bilhões.

O dólar comercial, por sua vez, disparou e virou para alta nos minutos finais após o presidente da comissão que analisa o projeto da TLP, Lindbergh Farias (PT), encerrar a sessão sem votar a medida. A moeda fechou negociada com alta de 0,40%, cotada a R$ 3,1810 na venda, após chegar a cair para R$ 3,1467 na mínima do dia. O dólar futuro com vencimento em setembro subiu 0,50%, a R$ 3,188.

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Os juros futuros com vencimento em janeiro de 2018 registraram baixa de 1 pontos-base, cotados a 8,03%, enquanto os contratos de janeiro de 2021 caíram 2 pontos, a 9,50%.

Na noite da última segunda-feira (21), o governo informou que irá propor a redução da participação da União no capital da estatal – atualmente com 63% do capital votante via União (51%) e BNDESPar (12%) -, assim como ocorreu com Embraer e Vale. Haverá uma oferta primária de ações que o governo não participará, assim ele será diluído e sua participação deve recuar para 47%. Porém, a União ficaria com uma única ação, que garantiria poder de veto em decisões estratégicas e na administração, artifício conhecido pelo mercado como golden share.

Por que a desestatização da Eletrobras pode trazer uma revolução no setor elétrico? Entenda aqui

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Segundo o Santander, a decisão é “inesperada e positiva, embora faltem detalhes sobre a proposta [se é uma verdadeira privatização ou simplesmente a venda de uma participação na empresa]”. De acordo com os analistas, a potencial privatização poderia destravar um novo valor aos acionistas, já que um novo sócio ou investidores poderiam acelerar o plano de recuperação e melhorar o custo da dívida e da estrutura de capital.

Vale destacar que a Eletrobras é atualmente negociada na bolsa com um largo desconto em relação ao NAV (Valor Presente Líquido), apontando que o desempenho recente das ações foi fraco por conta de incertezas em torno do plano de recuperação implementado pela gestão.

Para se ter uma ideia do “desconto” da Eletrobras em bolsa: o Santander estima que o NAV potencial da empresa pode chegar a R$ 69 por ação, utilizando múltiplos de mercado; no último pregão, as ações ordinárias e preferenciais classe B fecharam R$ 14,20 e R$ 17,80, respectivamente – ou seja, teríamos aí um potencial entre 390% e 290% para estes papéis. “A potencial privatização poderia destravar um novo valor aos acionistas, já que um novo sócio ou investidores poderiam acelerar o plano de recuperação e melhorar o custo da dívida e da estrutura de capital”, afirma.

Apesar da disparada das ações da Eletrobras, a notícia trouxe ainda outros efeitos para o mercado, e quatro pontos explicam porque esta euforia se espalhou para outros ativos:

1) Melhor gestão das estatais
Com esse anúncio, as empresas estatais sobem forte nesta terça-feira, já que revela o compromisso do governo em melhorar a gestão dessas compahias e aprofeitar os recursos de maneira mais eficiente, implicando em expectativas melhores de resultados. Um grande exemplo desse caso é a Petrobras (PETR3; PETR4), que disparou no ano passsado por conta da entrada de Pedro Parente na presidência, com plano de desinvestimento e maior eficiência nos gastos.

2) Setor elétrico comemora

A notícia favorece as empresas do setor elétrico, em especial controladas pelo governo, que podem sofrer o mesmo processo de desestatização da Eletrobras e ganhar em eficiência. As ações da Cemig (CMIG4), que recuaram por três pregões consecutivos em vista do imbróglio quanto ao leilão de quatro hidrelétricas sob seu controle, sobem mais de 8%.

3) Novas ofertas?

Fora do grupo de estatais, as ações da B3 (ex-BM&FBovespa; BVMF3) sobem cerca de 3% pelo maior apetite por renda variável, como também pela expectativa por novas ofertas de ações nos próximos meses, como no caso da Infraero (Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária), que vem sendo especulada desde o ano passado.

Destaques da bolsa

Por conta da notícia, as ações da Eletrobras lideram as altas, seguidas pelas estatais Cemig (CMIG4), Banco do Brasil (BBAS3) e Petrobras (PETR3; PETR4).

As maiores altas, dentre as ações que compõem o Índice Bovespa, foram:

 Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 ELET3 ELETROBRAS ON 21,20 +49,30 +0,39 652,31M
 CMIG4 CEMIG PN 8,61 +8,58 +14,72 145,78M
 ESTC3 ESTACIO PARTON 24,26 +4,70 +56,21 101,23M
 BBAS3 BRASIL ON ERJ 31,99 +4,38 +16,09 371,64M
 USIM5 USIMINAS PNA 6,24 +3,83 +52,20 96,94M

As maiores baixas, dentre os papéis que compõem o Índice Bovespa, foram:

 Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 MRFG3 MARFRIG ON 7,10 -1,11 +7,41 34,96M
 CIEL3 CIELO ON 22,55 -0,66 -1,52 172,43M
 SUZB5 SUZANO PAPELPNA 17,55 -0,57 +26,91 68,17M
 HYPE3 HYPERMARCAS ON 28,87 -0,14 +13,01 64,57M
 ECOR3 ECORODOVIAS ON 10,38 -0,10 +28,73 22,86M

As ações mais negociadas, dentre as que compõem o índice Bovespa, foram:

 Código Ativo Cot R$ Var % Vol1 Vol 30d1 Neg 
 PETR4 PETROBRAS PN 13,79 +3,37 745,58M 430,49M 33.977 
 ELET3 ELETROBRAS ON 21,20 +49,30 652,31M 27,66M 59.401 
 VALE3 VALE ON ATZ 31,86 +0,35 612,09M 340,01M 23.735 
 BBDC4 BRADESCO PN 33,50 +2,26 431,10M 284,97M 23.391 
 BBAS3 BRASIL ON ERJ 31,99 +4,38 371,64M 198,98M 24.301 
 ITUB4 ITAUUNIBANCOPN EJ 40,42 +2,12 369,46M 361,93M 21.309 
 ABEV3 AMBEV S/A ON 19,75 +0,05 347,40M 214,32M 44.903 
 BVMF3 BMFBOVESPA ON EJ 22,55 +3,08 223,48M 163,08M 23.585 
 ITSA4 ITAUSA PN EJ 10,03 +1,01 181,31M 154,29M 21.152 
 CIEL3 CIELO ON 22,55 -0,66 172,43M 188,55M 14.807 

* – Lote de mil ações
1 – Em reais (K – Mil | M – Milhão | B – Bilhão)
IBOVESPA

Cenário político agitado
Nesta terça-feira, o plenário da Câmara dos Deputados deverá analisar a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 77/03, que trata da reforma política e prevê um novo sistema para eleição de vereadores, deputados e senadores, o chamado “distritão”, e também a criação de um fundo com dinheiro público para financiar campanhas eleitorais.  A PEC 77/03 será discutida como pauta única do plenário, em sessão marcada para começar às 13h. Estarão em votação o texto-base, que ainda não tem consenso da maioria dos parlamentares.

Já a Comissão especial mista tem leitura do relatório sobre Medida Provisória 777, que trata da nova Taxa de Longo Prazo (TLP), às 15h00. Segundo o jornal Valor Econômico, o Planalto prevê 18 votos a favor da TLP versus 8 contra na comissão. O governo tem pressa com isso pois precisa passar o PL nas duas casas até 6 de setembro, quando a proposta irá caducar.

Ainda nesta terça-feira, às 19h00, haverá sessão do Congresso Nacional para analisar vetos do presidente Michel Temer em sete projetos de lei. Além disso, há previsão de reunião da Comissão Mista de Orçamento (CMO) com o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, para discutir o projeto de mudança da meta fiscal.

Para finalizar, em meio às negociações sobre a reforma política, a Câmara começará a discutir e analisar esta semana a reforma tributária. O deputado Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR), relator do tema na Câmara, deve apresentar na comissão especial de estudos a primeira versão de sua proposta de simplificação da legislação tributária do país.

Entrevista de Meirelles

Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, o ministro da Fazenda Henrique Meirelles afirmou ver chance de reforma Previdência passar este ano. “Há boas chances, dentro de um nível aceitável para o equilíbrio fiscal”, disse ele, afirmando que o “Congresso tem consciência de que a reforma é fundamental” e que “é importante para o próximo governo que a reforma seja votada agora”. 

De acordo com ele, a “proposta definida em maio com a Câmara proporciona 75% da economia prevista com a proposta original do governo. Vamos negociar tendo isso em vista para fazermos uma reforma que faça sentido, porque uma reforma que não faça sentido não deve ser feita”. Meirelles ainda disse que não vê diminuição da capacidade do governo de viabilizar projetos no Congresso em meio à crise política. Sobre as eleições de 2018, Meirelles disse que um candidato com uma mensagem reformista deve ganhar.

Quando perguntado sobre sua possível candidatura, Meirelles disse que está concentrado em “fazer as reformas e assegurar o crescimento nos próximos anos”.

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.