As duas notícias vindas do Brasil que levam o mercado para a terceira queda consecutiva

Além disso, investidores acompanham de perto o andamento das negociações do governo sobre a reforma da Previdência

Rafael Souza Ribeiro

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SÃO PAULO – Seguindo com o movimento de queda dos últimos dois dias, o Ibovespa registrava baixa de 0,28%, aos 71.964 pontos, às 16h53 (horário de Brasília) desta segunda-feira (13), em vista da piora das expectativas de inflação 2018 dos economistas que fazem parte do “Top 5” do Relatório Focus e as “pautas-bombas” no Congresso, que colocam o ajuste fiscal sob risco. Além disso, os investidores acompanham de perto o andamento das negociações da reforma da Previdência, após Aécio Neves afirmar que o PSDB deverá desembarcar em breve do governo.

Inflação controlada?

De acordo com o último Relatório Focus, entre os cinco economistas que mais acertam em suas projeções – o chamado “Top 5” -, as expectativas para o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) para 2018 saltou de 3,83% para 4,23%. Para se ter uma ideia da piora da percepção, no quadro geral dos economistas consultados semanalmente pelo Banco Central, a projeção para índice oficial de inflação teve pouco ajuste, passando de 4,02% para 4,04%.

Do lado da Selic, o grupo dos cinco economistas seguiu com expectativa de 7% para o final do ano, ao passo que para 2018 o cenário de curto prazo apontou para uma leve alta de 6,75% para 6,88%. Para a taxa de câmbio, a mediana das estimativas no cenário de curto prazo apontou para uma revisão de R$ 3,20 para R$ 3,25 ao final deste ano, e de R$ 3,30 para R$ 3,48 ao final do ano seguinte.

Lá vem bomba!

De acordo com informações do Estadão, o Congresso negocia medidas de isenção de impostos que pode gerar gastos de R$ 20 bilhões ao governo, colocando o ajuste fiscal sob risco. Segundo o jornal, o perdão de parte da dívida dos produtores rurais, assim como de juros e multas nas dívidas das Prefeituras com a Previdência, além da atualização da tabela do Imposto de Renda em 11,4% são alguns projetos antigos que os parlamentares estão tirando da gaveta e que podem dificultar a tentativa de ajuste das contas do governo.

Conforme aponta a matéria, a iniciativa está sendo liderada pelos partidos do “centrão”, que estão pressionando Temer para ceder recursos para justificar os esforços de salvar o presidente das denúncias apresentadas por Rodrigo Janot. Além disso, os deputados do cobiçam os quatro ministérios que estão nas mãos do PSDB, em especial da pasta do Ministério das Cidades, de olho na fatia do bolo do programa “Minha Casa, Minha Vida”. 

Em vista desta percepção de piora das contas e do rumo da inflação, os juros futuros com vencimento em janeiro de 2019 registravam alta de 2 pontos-base, cotados a 7,29%, enquanto os contratos de janeiro de 2021 subiam 6 pontos, negociados a 9,44%. No mesmo momento, o dólar futuro com vencimento em dezembro registrava valorização de 0,61%, aos 3.305 pontos.

Desembarque do PSDB

No sábado, o senador afirmou que o partido deverá, em breve, sair do governo Michel Temer: “vamos sair do governo pela porta da frente, da mesma forma que entramos”, disse na reunião Executiva do PSDB em Minas Gerais. Neste ambiente de desembarque certo, a coluna Painel, da Folha de S. Paulo, afirma que Michel Temer sinalizou a aliados que fará uma reforma ministerial em quinze dias e irá acomodar siglas do “centrão”, como PSD e PR, e o DEM. “Há um recado embutido: submersos na própria crise, os tucanos estão sendo colocados à margem de uma aliança centrista”, ressalta a publicação. Por isso, antes de lutar pela Previdência, Temer precisa correr com a reforma ministerial para acomodar o “centrão” para voltar discutir o andamento da pauta no plenário e reorganizar sua base aliada. 

A reforma da Previdência, mesmo que mais enxuta, tem um peso muito grande para o futuro da economia, pois, além de sinalizar o compromisso do governo com as contas públicas e evitar um rebaixamento do rating, garante a manutenção da política de cortes da Selic. Na ata da última reunião do Copom, o Banco Central deixou claro que o ritmo de cortes dependerá dos esforços do governo para aprovar a reforma da Previdência: “uma frustração das expectativas sobre a continuidade das reformas e ajustes necessários na economia brasileira pode afetar prêmios de risco e elevar a trajetória da inflação no horizonte relevante para a política monetária”, apontou o documento.

Além disso, conseguir o apoio para a Previdência, que está diretamente relacionada à reorganização da base, também será importante para aprovação do pacote de ajuste do orçamento para o ano que vem e destravar a pauta do plenário da Câmara dos Deputados, que conta com as novas regras do setor de mineração e privatização da Eletrobras.

Agenda econômica

Enquanto a B3 fica fechada na quarta-feira (15) por conta do feriado de Proclamação da República, não faltarão elementos para o mercado balizar suas expectativas em relação ao desempenho econômico e às políticas monetárias das principais economias globais na próxima semana, principalmente nos EUA.

Nos EUA serão divulgados os dados de inflação do PPI na terça-feira (14), além das vendas no varejo e CPI na quarta-feira (15), todos às 11h30 (horário de Brasília). Ainda no país, os dirigentes do Fed farão pronunciamentos sobre os rumos da economia, com destaque para o discurso de Janet Yellen, em evento marcado para terça-feira. Além disso, no dia do feriado brasileiro, Donald Trump deve fazer um “grande anúncio” na área de comércio: “muitas coisas estão acontecendo em comércio e anunciarei muito do que aconteceu aqui e também em outras reuniões, incluindo com a China, a Coreia do Sul e em muitos outros lugares”, afirmou em Manila, onde participou de uma cúpula da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean, na sigla em inglês). Além dos dados de varejo e produção industrial na China na noite de terça-feira, o presidente do BCE (Banco Central Europeu), Mario Draghi, e o presidente do Bank of Japan, Haruhiko Kuroda, irão discursar sobre os rumos da política monetária no mesmo dia. Já na Zona do Euro, saem os dados do PIB, a inflação medida pelo CPI e os números da indústria local ao longo da semana.

Já a agenda doméstica traz como destaque os dados de vendas no varejo de setembro, que serão revelados na próxima terça-feira . A estimativa compilada pela Bloomberg é de alta de 0,2% na comparação mensal e de 4,5% na anual. Sem data definida, serão divulgados nesta semana os dados de arrecadação federal de outubro, com estimativa de alcançar R$ 125,3 bilhões, de acordo com expectativa da Rosenberg Consultores Associados: “se confirmada, será uma continuidade de sinais pouco mais animadores, que apontam para melhora do desempenho nos impostos relacionados à atividade econômica”, afirma a consultoria.

Além disso, os investidores ficam de olho no fim da temporada de resultados, com mais de 40 balanços, incluindo Petrobras, JBS, Marfrig e Eletrobras. A petroleira, por sinal, divulgará os seus números hoje após o fechamento do mercado. 

Temer e Previdência

O presidente Michel Temer recebeu na tarde de ontem os ministros da Secretaria-Geral, Wellington Moreira Franco, e da Casa Civil, Eliseu Padilha, quando discutiu as chances de aprovação da reforma da Previdência. “São boas”, disse Moreira Franco, acrescentando que ela é fundamental para dar tranquilidade ao processo de recuperação da economia. O governo corre contra o tempo para obter os votos restantes para a reforma da Previdência e o Planalto já teria 280 votos na Câmara, disse na última sexta-feira o colunista Raymundo Costa, no Valor, e tenta obter os 28 restantes para ter placar mínimo ou 50 para ir a voto com margem.

Vale destacar ainda que passou a entrar em vigor no último sábado as novas leis da reforma trabalhista. Em seu Twitter, Temer afirmou que a modernização trabalhista adequa as regras aos novos tempos, aos trabalhadores modernos. “Nenhum direito a menos e muitos empregos a mais”, apontou.

Bolsas mundiais

Em mais um dia de realização após atingir seu maior nível desde janeiro de 1992 na semana passada, o Nikkei foi destaque de baixa na Ásia com dúvidas sobre o progresso da reforma tributária nos EUA. Na China, porém, os mercados mantiveram a trajetória positiva das últimas sessões, acompanhando a valorização do minério de ferro. 

Na Europa, o setor financeiro pressiona os negócios em Londres, queda que não é maior por conta da valorização das ações das mineradoras. Já o petróleo segue cotado perto de US$ 57 em Nova York após o ministro de energia da Arábia Saudita, Suhail al-Mazroui, afirmar que a Opep irá estender a corte de produção para equilibrar o mercado.

Às 16h53, este era o desempenho dos principais índices:

*Dow Jones (EUA) +0,01%

*S&P 500 (EUA) +0,08%

*Nasdaq (EUA) +0,07%

*CAC-40 (França) -0,73% (fechado)

*FTSE (Reino Unido) -0,24% (fechado)

*DAX (Alemanha) -0,40% (fechado)

*Hang Seng (Hong Kong) +0,21% (fechado)

*Xangai (China) +0,47% (fechado)

*Nikkei (Japão) -1,32% (fechado)

*Petróleo WTI -0,05%, a US$ 56,71 o barril

*Petróleo brent -0,65%, a US$ 63,11 o barril

*Contratos futuros do minério de ferro negociados na bolsa chinesa de Dalian +1,09%, a 465 iuanes