“Efeito China” derruba o mercado e Ibovespa caminha para correção após subir 3.700 pontos

Investidores aproveitam feriado nos EUA para realizar os lucros

Rafael Souza Ribeiro

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SÃO PAULO – Depois de subir 3.700 pontos nos últimos quatro pregões, o Ibovespa registrava baixa de 0,83%, aos 73.900 pontos, às 12h46 (horário de Brasília) desta quinta-feira (23), com os investidores aproveitando o dia de baixa liquidez por conta do feriado de Ação de Graças nos EUA para realizar os lucros auferidos, como também acompanhando a queda de 2% da bolsa chinesa e contando os votos para a aprovação da Previdência. Destaque para o IPCA-15 (Índice de Preços ao Consumidor Amplo – 15) de novembro, que ficou abaixo da expectativa do mercado.

O índice Xangai recuou 2,26%, aos 3.353 pontos, voltando para os patamares verificados no começo de outubro, com os investidores receosos com os esforços do governo para regular o setor financeiro e evitar uma bolha, assim como visto recentemente no mercado imobiliário. Nos últimos dias, as autoridades chinesas tomaram providências para impedir a forte expansão da oferta de microcrédito na internet e revelaram planos de reforçar a supervisão de produtos de gestão de ativos vendidos pelo bancos, a fim de evitar o aumento da alavancagem do sistema. Além disso, preocupações com os títulos de dívida chineses, cujo juro de 10 anos tem oscilado em torno de 4% – o maior nível em três anos -, contribuíram para o mau humor dos investidores.

IPCA-15 fica abaixo do esperado

O índice, que é considerado uma prévia da inflação oficial, desacelerou de 0,34% para 0,32% na passagem de outubro para novembro e ficou abaixo do esperado pelo mercado, que projetava avanço de 0,38%. Nos 12 meses encerrados em novembro, o IPCA-15 acelerou de 2,71% para 2,77%, ainda mantendo-se abaixo do piso da meta de 3%.

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Com o resultado, apontando que a inflação segue comportada, os juros futuros com vencimento em janeiro de 2019 registravam baixa de 4 pontos-base, cotados a 7,14%, enquanto os contratos de janeiro de 2021 operam praticamente estáveis, negociados a 9,24%. No mesmo momento, o dólar futuro com vencimento em dezembro registrava valorização de 0,28%, aos 3.236 pontos.

Contando os votos
O deputado Arthur Maia (PPS-BA), relator da reforma da Previdência, apresentou na noite de ontem o novo texto para viabilizar a aprovação das mudanças, durante jantar no Palácio da Alvorada. Foram mantidas as idades mínimas de 62 anos para mulheres e 65 para homens, a equiparação entre trabalhador público e privada, enquanto as contribuições sociais deixaram de ficar submetidas à DRU. O tempo de mínimo de contribuição para aposentadoria no Regime Geral de Previdência Social foi diminuído de 25 para 15 anos. Contudo, em troca de apoio à reforma, os jornais de hoje informam que Temer se compromete com medidas negativas para o ajuste fiscal, como reajustar os salários dos servidores em 2018, ceder na questão da dívida do Funrural e desonerar exportações. 

Com as novas regras apresentadas, que devem gerar uma economia de R$ 480 bilhões para os cofres públicos em dez anos, ou seja, 60% da proposta original, Temer (e o mercado) conta os votos para a aprovação da reforma na Câmara. Segundo levantamento feito pela MCM Consultores mostrou que o governo conta com 251 deputados que provavelmente o apoiarão nesta votação, mas existem ainda mais 64 deputados com chances de apoiar o governo, totalizando 315 parlamentares, suficiente para aprovação da PEC, que precisa do apoio de 308 congressistas – confira a análise completa.

Contudo, a confusão da véspera em meio à quase nomeação do deputado Carlos Marun (PMDB-MS) para a Secretaria do Governo no lugar do tucarno Antonio Imbassahy (veja mais aqui), que gerou um mal estar na base aliada, assim como a falta de quórum do jantar de Temer para apresentar a versão mais enxuta da Previdência, revelam que a missão de coletar os votos necessários para aprovação do texto na Câmara será árdua.

Segundo contam os parlamentares que estavam no jantar promovido pelo presidente, estavam presentes cerca de 170 pessoas na cerimônia, contando ministros, parlamentares e convidados. A “tropa de choque” do governo contava com no mínimo mais de 200 deputados após o governo atender as pressões dos aliados e da nomeação de Alexandre Baldy na pasta de Cidades, porém, a trapalhada com Marun de fato não foi bem recebida e o PSDB, por exemplo, boicotou o jantar. Desconsiderando os convidados, os cálculos apontam que apenas 100 deputados atenderam ao chamado de Temer.

Expectativa de correção

Confirmando a expectativa de recuperação após o teste da média móvel de 21 semanas na faixa (veja mais aqui), o Ibovespa cravou máxima exatamente na média móvel de 50 dias e a confirmação do candle de reversão formado no pregão passado sugere uma correção para os próximos dias, queda que tem como objetivo voltar para 72.390 pontos, onde tomará uma importante decisão.

Confirmando fundo ascendente sobre o suporte intermediário, um pullback será sacramentado e, assim, o mercado ganhará fôlego para finalmente romper o fundo perdido em 75.180 pontos e buscar o topo histórico em 78.024 pontos. Do contrário, deixando para trás 72.390 pontos, a expectativa de reversão será anulada e o caminho estará aberto para testar 70.825 pontos, confirmando a força da tendência de baixa de curtíssimo prazo.

Eleições 2018

O noticiário sobre as movimentações para 2018 também segue no radar. Em destaque, pesquisa Barômetro Político feita pelo Instituto Ipsos e divulgada nesta quinta-feira (23) pelo jornal O Estado de S. Paulo mostrou que a aprovação ao nome de Luciano Huck, cotado para disputar a presidência, apresentou um salto de 17 pontos porcentuais desde setembro, passando de 43% para 60%, indicando uma significativa melhora de imagem no período. Depois de Huck, entre os presidenciáveis, o próximo a aparecer no ranking de aprovação é o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com 43% de avaliação positiva e 56% de negativa, com melhora paulatina desde junho. Michel Temer e Aécio Neves lideram o ranking de rejeição. Confira mais clicando aqui. 

Atenção ainda para a aproximação da eleição do presidente do PSDB. Segundo a coluna Painel, da Folha, o senador Tasso Jereissati (CE) admite abrir mão da candidatura à presidência da legenda para que Geraldo Alckmin assuma o posto. O grupo ligado ao cearense diz que o partido não pode correr o risco de eleger Marconi Perillo (GO), alinhado a Aécio Neves (MG) e a Temer. 

Bolsas mundiais

Na Europa, as bolsas registram em sua maioria queda acompanhando o mercado chinês, mas também repercutindo os dados econômicos da região. O PMI Composto (Índice de Gerentes de Compras) do IHS Markit para a zona do euro saltou para 57,5 neste mês, nível mais alto desde abril de 2011 e superando a estimativa de 56,0. Já o PIB no Reino Unido registrou crescimento de 0,4% no terceiro trimestre ante o anterior e avançou 1,5% na comparação anual, em linha com as estimativas do mercado. 

Às 12h46, este era o desempenho dos principais índices:

*CAC-40 (França) +0,24%

*FTSE (Reino Unido) -0,23%

*DAX (Alemanha) -0,16% 

*Hang Seng (Hong Kong) -0,99% (fechado)

*Xangai (China) -2,26% (fechado)

*Petróleo WTI -0,28%, a US$ 57,86 o barril

*Petróleo brent -0,60%, a US$ 62,94  o barril

*Contratos futuros do minério de ferro negociados na bolsa chinesa de Dalian +3,05%, a 507,5 iuanes

* Minério de ferro negociado em Qingdao 62% +3,87%, a US$ 67,68 por tonelada