Temos uma oportunidade gigantesca de investimento no Brasil, afirma estrategista da Safari

Elsom Yassuda, em entrevista ao InfoMoney, destacou que, se um candidato reformista for eleito, haverá o caminho para consistência fiscal necessária para seguir a trajetória de queda de juros, o que terá efeito colossal na economia e no portfólio de investimentos

Thiago Salomão

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SÃO PAULO – Oportunidades gigantes de investimentos estão abertas, com o Brasil perto de virar um país de juro real longo baixo. Porém, a perspectiva do Brasil continuar nesse caminho depende de uma questão crucial: o resultado das eleições de 2018.

É o que avalia o estrategista da Safari Capital, Elsom Yassuda, em entrevista ao InfoMoney. Se um candidato reformista for eleito, haverá o caminho para consistência fiscal necessária para seguir a trajetória de queda de juros. Porém, os riscos são consideráveis. 

“É uma oportunidade gigantesca, do ponto de vista de mercado, tem muita coisa para ser precificada no cenário de um presidente reformista. Mas não tem um candidato claro despontando nas pesquisas e por isso é difícil de carregar a posição”, afirma Yassuda. Desta forma, a Safari Capital, fundada em 2015 por Yassuda e Marcelo Cavalheiro, possui em seu portfólio ações com temas mais globais ou que têm uma exposição à recuperação do crédito e da atividade econômica, consideradas mais interessantes no momento. 

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Confira os principais trechos da entrevista:

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InfoMoney: Qual é a tese de investimento no Brasil e qual o papel da eleição?

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Elsom Yassuda – O Brasil está perto de virar um país de juro real longo baixo, finalmente, e esse é o grande catalisador que estamos buscando nas carteiras. Às vezes, não temos noção da distorção que um juro real tão grande gera por tanto tempo na economia: há uma dependência em relação ao CDI porque estamos acostumados a ter uma remuneração real de dois dígitos, com risco baixo, que é o risco-governo. Através da estrutura pós-fixada, não se corre o risco de inflação e liquidez diária. Não existe isso no mundo, é uma jabuticaba das finanças, o que gera do ponto de vista de tomada de decisão financeira e alocação de capital uma distorção muito grande. Caso se transforme essa história de juro real baixo, de 3%, 3,5% no longo prazo com inflação bastante controlada, a mudança é dramática e o efeito que terá sobre economia é colossal.

Quem carregava uma carteira de 5% de exposição em ativos de renda variável e 95% de exposição na renda fixa, no pós-fixado, conseguia uma rentabilidade 1% ao mês por muito tempo. Só que isso acabou. Se ele quiser fazer algo como 12% ou 13% ao ano, essa exposição em renda variável tem que subir para 20, 30%. Essa movimentação de riqueza vai virar investimento e crédito. E mudando esse investimento, muda o crescimento de longo prazo.

Então estamos à beira de resolver uma das grandes pedras no caminho do desenvolvimento brasileiro porque haverá uma baixa consistente da taxa real de juros brasileira, se fizer as reformas necessárias, com inflação controlada, aumentando o potencial de crescimento de longo prazo. Então imagina um país, uma empresa que crescia a 1,5%, 2% e descontava esse fluxo de caixa a 8%, 9%, 10%. Agora a gente vai virar uma empresa que cresce a 3%, 4% no longo prazo, resolvendo isso tudo, com uma agenda de reforma de verdade, e descontar isso a 3%. Será transformacional, uma coisa muito forte.

IM – O que é necessário para que isso aconteça?

EY – Uma parte da história a gente já fez, que é ter uma inflação baixa, e o Banco Central fez um trabalho magnífico nesse período todo, ao mesmo tempo em que houve consistência fiscal, com o trabalho do Tesouro e da Fazenda deu consistência para quebrar a espinha da inflação. Se for dada a consistência fiscal para isso, o país não quebrar, esse troço começa a ficar permanente e o espaço para a queda de juro real é gigantesco.

Mas é preciso consistência fiscal – é isso que está em jogo na eleição. Pode ser uma história transformacional no país, das maiores mudanças que a gente fez na década, mas pode ser algo muito negativa também. Por isso que a questão eleitoral é super importante.

IM – Colocando tudo isso na balança, isto pesa mais do lado negativo ou positivo?

EY – O fato de haver um upside tão grande no mercado já nos deixa com uma propensão bem maior a estar comprado. São poucas as chances que vimos antes de mudanças transformacionais tão grandes no país, então faz sentido estar comprado, é uma oportunidade importante. Por outro lado, tem um outro lado da história que pode ser bastante negativo. Por que essa questão carrega um grau de indefinição grande? Porque se, em um primeiro momento há condições econômicas muito boas para “carregar” essa eleição, com o consumo crescendo mais de 4%, inflação rodando perto dos 3,5%, emprego melhorando consistentemente, os candidatos que carregam essa bandeira não são os caras que o eleitor quer. O eleitor tem um pedaço que claramente é contra o que está aí, anti-establishment. E você não acha nomes. Então pode ter boas propostas, acho que essa é eleição que você tem as melhores propostas na mesa: até o Bolsonaro tem o Paulo Guedes para defender uma proposta mais liberal. Mas, por outro lado, não há nomes competitivos. Com isso, a eleição fica equilibrada. Há um mundo de candidatos com 10, 15% de intenção de votos. Isso agrega incerteza – na verdade, a grande fonte de incerteza vem daí. O candidato que carrega essa bandeira reformista seria o Alckmin.

IM –  O que não era no passado né? Ele deu uma atualizada, uma repaginada no discurso.

 EY – Acho que ele se encaixou mais nessa conjuntura e o País também evoluiu neste sentido. Tem também o exemplo do Paulo Guedes com o Bolsonaro, o que mostra que o ciclo também ajuda muito. O fato da esquerda ter feito todas as bobagens, principalmente no mandato da Dilma [Rousseff], também ajuda. Foram testadas um monte de teses heterodoxas e deu tudo errado. E tem algo mais estrutural, o País está ficando mais urbano, as pessoas pagam mais impostos, então a agenda liberal foi tomando mais protagonismo nesse processo.

Temos diferenças sociais gigantescas, nunca seremos um país com uma agenda totalmente liberal, mas essa questão do tamanho do Estado e necessidade de diminui-lo um pouco e ganhar eficiência virou protagonista nessa eleição. O Alckmin percebeu isso e está se rodeando de gente boa para formar uma política nessa direção. Mas ele não está sozinho: a Marina Silva já tinha percebido um pouco isso desde a eleição passada, quando ela trouxe o Eduardo Giannetti para a equipe dela. Mesmo o Joaquim Barbosa já deu entrevistas falando que, se fosse candidato, seria a favor da Reforma da Previdência, quer dizer, tem uma evolução da classe política nesse tema. E o Alckmin está acompanhando a evolução. Na capacidade de articular o Congresso e fazer Reformas, o Alckmin é o candidato mais qualificado.

IM –  Quais as chances de Alckmin tornar-se presidente? E quais os riscos de sua campanha?

EY – Concordo que tem bastante risco e ele está muito concentrado no primeiro turno. O Alckmin é um cara que está mais para 10% do que para 15%, mas há dois atributos que são importantes: primeiro é, se o centro se articular da maneira que tem sinalizado, o Alckmin e talvez o candidato próximo ao governo, não sei se esse candidato vai existir, eles vão dominar 60, 70% do horário eleitoral. Também vão ser eles que terão os palanques regionais, então a estrutura partidária/de comunicação para eleição desses caras é muito mais robusta. O Bolsonaro vai ter 8 segundos. A Marina tem perto de 15, o Ciro tem 30. Quer dizer, os adversários do Alckmin vão ter um espaço de exposição muito menor e uma chance muito menor de se defender em uma campanha que vai ser muito aguerrida. O segundo ponto é que Alckmin não está capitalizando ainda e tem chance de fazer isso. Ele vai ter muito mais espaço, muito mais estrutura de campanha, muito mais espaço de televisão.

Mas onde está o risco? O risco é que o Alckmin é o candidato mais dependente de campanha. Como a campanha é curta, ele não pode errar. No fundo é isso. Quando eu olho para as chances dele, elas são boas, mas a margem é estreita.

IM – Há alguns nomes, além de Lula, que falam mais do lado “esquerdo” da força, como Ciro Gomes que diz que vai “tomar a Embraer”, enquanto muitos ainda associam Lula a uma época positiva e vão tentar retomar isso de alguma forma. Esse cenário assusta? Aumentou um pouco o grau de risco?

EY –  Assusta, claro, há uma grande interrogação dessa eleição era a capacidade de transferência de votos do Lula, mas os últimos acontecimentos jurídicos diminuíram essa capacidade no seguinte sentido: o Lula mudou um pouco a estratégia de comunicação desde o julgamento no TRF-4. Passou a defender a biografia, a história dele.

Acho muito difícil conseguir transferência de votos. E o que acontece com a esquerda? Um bom jeito de ver isso é olhar para os candidatos que se interessam por essa história. Se o Lula estivesse aqui, ou fosse um player relevante, a esquerda se organizaria em torno dele. A esquerda está pulverizando. Então o fato do [Guilherme] Boulos sair é um sinal bastante importante, o fato do PC do B estar lançando, pela primeira vez, uma candidatura independente do PT é muito relevante. E o PT está se pegando para saber qual vai ser a alternativa ao Lula no partido. E o Ciro tem esse “discurso” muito forte de insistir na candidatura, “eu sou a alternativa”. O Ciro tem voto, o risco está mais nele, mas não acho que a transferência vá ser tão grande não.

 IM – Queria saber sua opinião sobre a relação entre Jair Bolsonaro, conhecido por suas posições nacionalistas e o liberal Paulo Guedes? E até que ponto dá para acreditar que tendo um ”super-liberal” aconselhando economicamente Bolsonaro poderemos dar o benefício da dúvida?

EY – O mercado, em algum momento, vai dar o benefício da dúvida para o Paulo Guedes, mas não acho que vá ser a esses preços em que o Ibovespa está. Acredito que a questão com o Bolsonaro não seja essa. Ele tem um formulador, tem uma linha muito clara, ele é o mais liberal se você for levar em conta os assessores econômicos.

Só que como se coloca isso em prática? Depende do Congresso e a renovação do Congresso vai ser provavelmente menor, especialmente dentre as lideranças partidárias, que são os que mandam nos fundos eleitorais. Esse negócio não vai mudar e ele irá negociar com os mesmos players. É difícil, boa parte da agenda precisa de maioria constitucional. Estou imaginando que o Bolsonaro vá adotá-las, que é outra questão. Mas mesmo que ele as adote, como ele coloca em prática? Esse é o risco que eu enxergo no caso dele.

Não sei se o Bolsonaro é um nome que consegue articular essas forças no Congresso. Agora, sobre o Bolsonaro, acho que também é importante a gente dizer o seguinte: ele cresce muito, ele tem muito voto, uma parte está cristalizada mas, ao mesmo tempo, que ele vai ganhando intenção de voto, vai cristalizando uma rejeição.

O discurso dele é muito representativo para um pedaço do eleitorado, um pedaço importante, significativo, formador de opinião, mas ainda restrito. Ele está se aproximando de alguns setores que o centro se aproximava mais. Mas acho que em um segundo turno, contra um candidato de centro, é muito vulnerável. Lembrando que ele tem muito pouco tempo de exposição. A estrutura de campanha dele ainda é muito precária, apesar das redes sociais. Então acho que ele é um bom candidato para o segundo turno, mas é um candidato “batível” no segundo turno.

IM – Qual é o grande risco da eleição? Um segundo turno entre Bolsonaro e o Ciro Gomes?

EY – É, acho que esse é o risco da eleição. Nesse tipo de cenário que o Bolsonaro pode ter chance, também o Ciro aumenta muito a chance com o Bolsonaro. É o cenário da radicalização no segundo turno. Isso existe. Eu construí todo um argumento para dizer que o Alckmin tem chance, mas se ele errar na mensagem, se ele começar a campanha de uma maneira que o eleitor não capture os seus atributos, ou se aparecer alguma coisa do tipo “Lava Jato”, ele fica bem mais comprometido. Me parece que ele tem boas condições de levar a eleição, diria até que é o favorito, só que o horizonte de fatos que podem acontecer com poucas semanas de campanha, aumenta muito o risco.

IM – Pelo cenário que vocês, gestores e economistas, têm desenhado, chega a ser assustador para os dois lados porque a gente está vendo o Ibovespa está nos 85.000 pontos, Selic a 6,5%, dólar a R$ 3,30. E se vier um candidato reformista, que fique 4, 8 anos, consegue-se manter um juro real super baixo. Para onde iria esse Ibovespa? E ao mesmo tempo, há o outro extremo: como ficaria o cenário nesse caso?

EY – No caso negativo para os mercados, é um outro patamar de preços, será dado um salto para uma situação muito pior. Tem um patamar que consegue repensar e pensar em compra, mas estamos muito longe desses níveis, nesses cenários, tanto para o Bolsonaro quanto para o Ciro.

Sobre a parte boa, quer dizer, e é por isso que a gente gosta da história, é verdade que o juro está baixo, mas a curva ainda tem prêmio, na parte mais longa dela. E do ponto de vista da atividade, vimos essa queda de juros, a queda de inflação, a atividade está recuperando. E tem dois motivos para isso: o mercado de crédito, principalmente corporativo e de consumo está andando, mas o corporativo ainda está resiliente porque os bancos têm uma carteira que foi renegociada, então é uma carteira que ainda tem riscos, até porque há eleição. Isso do ponto de vista da oferta.

Do ponto de vista da demanda, uma empresa fará altos investimentos, sabendo que há uma eleição binária? Não faz mais sentido esperar 6 meses? Faz! Quando se supera isso tudo, se supera essa barreira, destrava todo esse processo. Junto com isso vai destravar decisão de investimento. Tem muita gente ainda preocupada com eleição, apesar dos juros estarem baixos e que mal começou a fazer uma mudança de portfólio porque sabe do risco eleitoral. Se consegue ultrapassar esse risco eleitoral, toda essa mudança de riqueza para os ativos de risco com certeza vai começar a acontecer de verdade. Estamos vendo um trailer desse filme. Mas, de novo, temos que passar a eleição. É uma oportunidade gigantesca, do ponto de vista de mercado, tem muita coisa para ser precificada no cenário de um presidente reformista. Mas não tem um candidato claro despontando nas pesquisas, por isso é difícil de carregar a posição.

Olhando para as nossas carteiras, continuamos comprados, bastante comprados, mas gostamos desse “case” global e vemos todo esse upside de Brasil. Mas a carteira está mais distribuída. Se, no ano passado, o grande catalisador para a performance foram os cases de consumo porque confiávamos na volta do consumo doméstico, agora temos mais empresas de commodities, empresas mais dependentes da demanda global, cases que ficaram são o que estão descontados para 2018, não estão com prêmio para 2019 e 2020. Fomos para uma carteira com muito mais liquidez, que conseguimos “hedgear” com mais eficiência. Porque precisamos passar por todo esse processo eleitoral e provavelmente só vamos ter uma clareza maior da vitória ou não do Alckmin ou de um presidente reformista lá no começo da campanha.

Thiago Salomão

Idealizador e apresentador do canal Stock Pickers