Dólar na mão do mercado: atuação do BC cria clima de especulação, dizem analistas

Avaliação é que o BC exagerou na atuação e em projetar volume, o que deixa o mercado no controle da taxa de câmbio

Rodrigo Tolotti

Publicidade

SÃO PAULO – Desde o fim da semana passada, logo após o dólar atingir R$ 3,94, o Banco Central decidiu mostrar sua força no câmbio e elevou a quantidade de swaps ofertados diariamente para acalmar os investidores. Mais do que isso, o presidente da autoridade, Ilan Goldfajn, anunciou que só entre os dias 11 e 15 de junho, seriam pelo menos US$ 20 bilhões injetados. Mas toda esta estratégia, apesar de devolver o dólar para R$ 3,70, começa a gerar críticas e dúvidas sobre o futuro do câmbio.

Para José Faria Júnior, diretor da Wagner Investimentos, o BC errou ao colocar um volume muito alto de swaps em um período tão curto. “O mercado está no controle” afirma ele lembrando ainda que a próxima semana tem Copom (Comitê de Política Monetária), o que deve elevar muito a volatilidade no mercado.

Recentemente os juros futuros dispararam diante da elevação da tensão do mercado e já começam a precificar uma alta de 25 pontos-base na reunião da próxima quarta-feira (20), e uma elevação na casa de 200 pontos-base até o fim do ano. “A grande pergunta é: o que vai fazer a partir de segunda-feira?”, questiona Faria reforçando que o BC começa a perder poder após a forte atuação desta semana.

Masterclass

As Ações mais Promissoras da Bolsa

Baixe uma lista de 10 ações de Small Caps que, na opinião dos especialistas, possuem potencial de valorização para os próximos meses e anos, e assista a uma aula gratuita

E-mail inválido!

Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

Já Sidnei Nehme, diretor executivo da NGO, reforça que existe um movimento especulativo por parte dos tomadores de dólar, que são “quem tem o domínio da formação de taxa do câmbio”. Segundo ele, o mercado absorverá todas das ofertas que o BC fizer de swaps cambiais sem alterar o viés de alta do preço da moeda.

Diante desta avaliação de que o mercado é que está no comando, além dos riscos que podem aumentar tanto no exterior quanto por aqui, Nehme diz que o preço real e efetivo do dólar no país tem potencial para ficar acima de R$ 4,00 ou mais. Para ele, o ganho é certo quando o BC diminuir sua intervenção, diante da expectativa de que os tomadores provocarão a depreciação do real para realizarem suas lucros com a alta do dólar.

“Enfim, acreditamos que é absolutamente ineficaz a oferta contundente de swaps cambiais pelo BC na atualidade para interferir no preço do dólar, que entendemos estar sob o comando dos tomadores, e assim fica presente movimento especulativo e não mais de busca de proteção”, conclui o diretor da NGO.

Continua depois da publicidade

Já Faria, acrescenta que “a intervenção mais forte do BC poderia ser necessária, mas projetar o volume ofertado em 6 dias [de US$ 20 bi] deu a oportunidade para comprar e reduziu a margem de manobra”. Ele lembra que se o BC continuar com esta “ração diária”, irá atingir em junho dois terços do total do período comandado por Alexandre Tombini, o que deve deixar a autoridade sem muito espaço para atuar quando as eleições chegarem, e isso pode ser um grande perigo.

Sinais claros

E toda esta análise já começa a ficar cada vez mais clara no mercado. Após a forte queda de 5,5% na sexta-feira passada, o dólar tem registrado alta em algum momento do dia em todos os pregões desta semana, virando para queda apenas quando o BC realiza algum leilão extra de swaps. Um claro sinal de que o mercado só “se acalma” depois que a autoridade intervém.

Além disso, na última quarta, a forte atuação do BC no mercado foi bastante criticada por especialistas. Além do leilão tradicional, a autoridade fez uma atuação extra pouco antes da decisão do Fomc, já prevendo que o dólar iria subir. Porém, ainda depois que o Federal Reserve elevou os juros, o BC entrou de novo com swaps, o que fez a moeda fechar praticamente estável.

Já nesta quinta-feira (14), o sinal de que não há mais força acende ainda mais. No início da tarde, o BC anunciou um leilão de 40 mil contratos de swap, um dos maiores volumes para um único leilão nesta semana. Porém, não houve um grande efeito no mercado: às 13h35 (horário de Brasília), a moeda tinha ganhos de 0,15%, cotada a R$ 3,7191 na venda.

Quer investir em ações pagando só R$ 0,80 de corretagem? Clique aqui e abra sua conta na Clear

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.