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* Richard Back, analista político da XP Investimentos
* Carlos Melo, cientista político e professor do Insper
No último domingo, o programa “Conexão Repórter”, do jornalista Roberto Cabrini, levou ao ar uma reportagem sobre Dilma Rousseff e sua rotina nos cada vez mais prováveis últimos dias no Palácio da Alvorada. Dilma falou abertamente sobre assuntos como tortura, sua família e assumiu erros, mesmo que de forma torta e sempre tentando justificar, ou ao menos explicar, por fatores externos a sua vontade ou controle.
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O programa mostrou o lado pessoal de Dilma, faceta praticamente desconhecida em face do encastelamento e posterior isolamento no poder. Dilma comentou — algo pouco usual — os anos de luta contra a ditadura militar, as dificuldades da cadeia e da tortura, e a vitória contra o câncer, pontos que evidenciaram uma Dilma que a maioria desconhece, mesmo após duas campanhas eleitorais e mais de cinco anos de governo.
Em 12 de maio de 2016, Dilma Rousseff foi intimada a deixar o Palácio do Planalto. Desde então, arrecadou recursos em tempo recorde, viajou pelo Brasil, sem muito sucesso tentou falar com a nação, mas acabou por se comunicar apenas com a militância petista. Na luta contra o impeachment, suas viagens não deram resultado prático, mas, ajudaram seu partido a brigar pela sobrevivência política, ao menos no nordeste do Brasil, região onde a presidente afastada teve significativa recuperação de imagem. Mas parece não ter bastado. No restante do país, a narrativa do suposto “golpe” que teria sofrido — argumento principal de seus discursos — não sensibilizou e nem conseguiu estabelecer um contraponto adequado ao discurso reformista de Michel Temer, presidente interino e, hoje, seu principal desafeto e antagonista.
No “Conexão Repórter”, não foi nada do que Dilma disse que chamou atenção, mas, antes, o que omitiu: não mencionou uma vez sequer a única proposta concreta, uma única pauta que conseguiu formular sobre o que faria, ou mudaria, no caso de o Senado restabelecer seu mandato: a realização de plebiscito sobre novas eleições.
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Não ter mencionado sua única bandeira de luta deixou evidente que Dilma segue a mesma: seus compromissos são aleatórios, pouco estruturados, como ideias apenas lançadas ao vento, seu pacto principal parece ser mesmo com sua teimosia, não com programas, projetos, saídas para a terrível crise nacional, política e econômica. Segue incapaz de diferenciar sua particular visão de mundo das necessidades e interesses mais gerais do país.
Isto não destoa de sua prática de desde sempre, que a levou ao precipício: durante seu governo, especialmente quando começa a ter dificuldades políticas em 2013, ela tentou vários acordos políticos e mesmo uma “autocrítica” durante as manifestações de rua, lançando daí os “cinco pactos nacionais” que previam desde recursos para mobilidade urbana, até um plebiscito a respeito de reforma política – que não deram absolutamente em nada, pois não expressavam compromissos e determinação reais. Foram pactos de nada com coisa nenhuma, que ninguém participou ou compartilhou, e eles simplesmente desapareceram no tempo, pela absoluta falta de convicção justamente de quem os propôs, que só se move, como já dito, por suas teimosias disfarçadas, e/ou confundidas com convicções.
Dilma cairá por um enorme, e crescente, conjunto de fatores econômicos, orçamentários e políticos. Sobre o fator político, se nem ela leva a sério seu único e questionável compromisso de novas eleições, qual Senador levará?
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