“Pacote de bondades” de Temer? Para consultorias, isso é improvável – por um motivo bem simples

Política econômica tem sido vista pelos mercados como a "fiadora" da sustentação política do governo - e Temer depende dela para seguir no governo

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Em meio à crise política deflagrada com a delação da JBS, o noticiário das últimas semanas destacou que o governo de Michel Temer está acenando com bondades. Essas possíveis medidas são vistas com grande atenção pelo mercado, uma vez que elas podem representar um afrouxamento do ajuste fiscal, um dos pilares do atual governo. 

Entre as medidas no radar, estariam os parcelamentos de débitos de contribuintes com descontos em multas e juros (os chamados Refis) até propostas de crédito subsidiado e estudos conduzidos pela ala política sobre possíveis alterações no Imposto de Renda Pessoa Física.

Porém, apesar de todos os rumores, as consultorias econômicas veem essa sinalização com grande ceticismo. “Parece-nos improvável que o governo vá forçar a adoção de medidas que contrariem as diretrizes atuais da política econômica”, destaca a LCA Consultores, citando dois pontos.

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Em primeiro lugar (e principalmente por isso), porque a política econômica tem sido vista pelos mercados como a “fiadora” da sustentação política do governo, tendo servido como amortecedora dos impactos do recrudescimento da crise sobre o risco-Brasil e o câmbio. Em segundo lugar, porque a economia tem dado mostras de recuperação, num contexto em que a inflação segue dormente e a política monetária prossegue em trajetória de flexibilização. 

“Adotar medidas com apelo ‘populista’ em meio à instabilidade política tenderia a indispor a equipe econômica e poderia levar o Banco Central a adotar uma postura mais cautelosa na política monetária – situação em que os mercados domésticos de câmbio e juros tenderiam a ficar mais voláteis; e a incorporar um maior risco de curto e longo prazo para a dinâmica das contas fiscais”, afirma a consultoria.

Sem risco iminente, mas…

A Rosenberg Consultores Associados também destacou em panorama semanal que, conforme amplamente demonstrado pelas investigações, o apoio político não é pautado por ideologias ou visão de Brasil mas, sim, pelo balcão de negócios, grupos de pressão e corporativismo. “Portanto, o risco de cair na tentação de comprometer as contas públicas conforme se esvai o poder político sempre existe, mas não acreditamos que seja iminente”, afirmam os consultores.

A consultoria reforça o mesmo motivo apontado pela LCA: a atual equipe econômica goza de elevada credibilidade e provavelmente não compactuaria com nova deterioração fiscal em nome da manutenção de um grupo político. E Temer necessita mais da equipe econômica do que vice-versa para manter-se no cargo e tranquilizar os mercados, enquanto as notícias de que o governo elaborava um “pacote de bondades” foram rapidamente rechaçadas pela equipe econômica.

Porém, aponta a Rosenberg, se a parte fiscal parece estar blindada a populismos, a política parafiscal relacionados , especialmente o BNDES, poderia gerar mais preocupação, “a começar pela pouco explicada saída de Maria Silvia Bastos Marques do comando do banco dias após o tsunami da JBS”.

Já na semana passada, Temer se encontrou com 20 governadores com a promessa de repactuação das dívidas dos governos regionais com a instituição, ao redor de R$ 50 bilhões. “Apesar de não comprometer
diretamente a política fiscal, essa possível repactuação de dívidas com o BNDES ainda carece de maior detalhamento para se entender seu real impacto sobre as contas públicas no médio prazo”, apontam os economistas.

Conforme destaca a Rosenberg, em um momento em que a política monetária é expansionista e ajustes já estão em curso para diminuir progressivamente o subsídio via BNDES (como a nova TLP), uma expansão de crédito via BNDES não teria as mesmas consequências negativas que teve durante a Nova Matriz Macroeconômica, que ganhou forças no governo de Dilma Rousseff. Ainda assim, deve ser observada
atentamente, com lupa, até mesmo pelo ruído em termos de confiança que pode gerar.

No programa “Na Real na TV” desta segunda-feira, o economista-chefe da MB Associados Sergio Vale, também comentou o assunto, destacando esperar que a área técnica do governo continue não cedendo a esse tipo de “pacote de bondades” que, segundo ele, há anos não funciona no Brasil. “Tenho confiança de que a equipe que está lá vai continuar barrando esses desejos que não vai gerar aumento de popularidade. Pelo contrário, vai ter um efeito mais negativo ainda. Se tiver uma equipe econômica que aceita um pacote de bondades desse, vai afundar a economia mais ainda”. Confira a entrevista na íntegra no vídeo abaixo: 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.