Por que o presidente ‘mais impopular do mundo’ pode ser candidato à reeleição?

Pode parecer que a turma do Palácio do Planalto tem tido alucinações, mas, independentemente da candidatura, Michel Temer terá papel central nas próximas eleições

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – Mais do que a aprovação da reforma previdenciária (como se fosse pouco), pode haver outra costura por trás da reforma ministerial do presidente Michel Temer. Conforme explorado em outras análises aqui feitas, o peemedebista joga com perspectiva de poder, gotejando a distribuição de cargos para manter o controle da agenda legislativa e ampliar sua influência sobre o processo eleitoral, indicando que o governismo terá um papel nada desprezível na disputa. A ideia seria apoiar um nome que possa defender o legado da atual gestão.

A despeito da baixa popularidade (a menor do mundo, segundo estudo da Eurasia Group) e da indicação de uma base mais magra na votação da segunda denúncia apresentada pela PGR, o presidente não repete o imobilismo que se observou nos últimos meses da gestão do correligionário José Sarney. Mas quais seriam os limites dessas diferenças?

Ao que tudo indica, é isso que está sendo testado no momento. Como apontou o jornalista Raymundo Costa em sua coluna pelo jornal Valor Econômico desta terça-feira, o próprio Michel Temer pode acabar como candidato a continuar por mais quatro anos no Palácio do Planalto. Segundo o colunista, já está em curso uma negociação pela formação de uma aliança envolvendo PMDB, DEM, PP e provavelmente o PR para as próximas eleições.

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Em que pese o elevado índice de rejeição do peemedebista, algumas cartas na manga podem ser testadas. A primeira, o benefício de um prazo mais elástico que muitos de seus potenciais concorrentes para lançar a candidatura. Conforme bem aponta Raymundo Costa: “o prazo para a decisão do presidente é fim de o junho. Na prática, é o mesmo prazo para os demais pretendentes. A diferença é que, em março, nomes como Joaquim Barbosa, João Doria (se resolver trocar de partido para se candidatar) e Luciano Huck, por exemplo, terão que se filiar a uma sigla e virar vidraça”. A segunda carta na manga seria a perspectiva de melhora da economia. A terceira, o próprio controle da máquina. Em um pleito com perspectiva de poucos recursos, devido à exclusão do financiamento empresarial de campanha, tal posição privilegiada pode fazer a diferença.

No mesmo sentido vem a análise feita por Carlos Eduardo Borenstein, da consultoria Arko Advice, em entrevista ao programa Conexão Brasília da última sexta-feira (17): “Historicamente, pelo peso que o Estado brasileiro tem, a máquina é muito importante. Sem dúvida, em que pese a popularidade baixa do presidente, temos que considerar que a eleição de 2018 vai ter uma pulverização muito grande. Então, creio que, se um candidato obtiver algo em torno de 15% ou 16%, ele tem chance de chegar ao segundo turno. Então, se a economia seguir emitindo sinais de recuperação que apresenta hoje, se o governo aprovar a reforma da Previdência, ele passa a ter uma agenda interessante a oferecer, e, com o uso da máquina, tem espaço para construir uma candidatura para chegar ao segundo turno”.

“Hoje se fala muito no nome de Meirelles pelo protagonismo que ele assumiu, mas não podemos nos esquecer que o próprio Temer está habilitado para disputar a reeleição. Hoje, temos um cenário em que a popularidade dele é baixa, mas há muita água para rolar debaixo da ponte até a sucessão de 2018”, continuou o especialista. Para ele, o cenário de baixa aprovação do governo pode ter um alívio após a aprovação da reforma previdenciária e com algumas sinalizações de melhora da economia ainda por vir. Esse cenário costuma ser colocado como condicionante para o fortalecimento do nome de Meirelles na disputa, mas, como o próprio analista da Arko pontua, nada impede que Temer seja o nome. Como observou Raymundo Costa: “Se há um legado a defender, o próprio Temer pode fazê-lo”.

Pode parecer que a turma do Palácio do Planalto tem tido alucinações. Porém, independentemente da candidatura, ao que tudo indica, para o bem ou para o mal, o presidente Michel Temer realmente terá papel central nas próximas eleições.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.