Distrito das flores de Manhattan está em vias de extinção

Trecho de um quarteirão de Chelsea é a peça central da multibilionária indústria floral dos EUA e transporta flores para as casas e os escritórios de algumas das pessoas mais ricas e poderosas do planeta

Bloomberg

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(SÃO PAULO) — São quase 6 da manhã na West 28th Street e, à medida que o sol de julho se ergue sobre Nova York, aromas inesperados despertam os sentidos. Em vez do asfalto quente e do escapamento de caminhões, sente-se o perfume de glicínias, ervilhas de cheiro e jacintos. As manchas de chiclete das calçadas e os portões das lojas ficam escondidos por rosas e cravos empilhados ao longo do meio-fio.

Apesar de estar se transformando em um playground para os ricaços, Manhattan ainda conserva traços de seu passado de classe trabalhadora. Embora o mercado do peixe, o distrito das carnes e até mesmo os distritos dos diamantes e das roupas tenham desaparecido, estejam desaparecendo ou tenham sido reduzidos a pequenas versões do que eram antigamente, o distrito das flores permanece. Na verdade, esse trecho de um quarteirão de Chelsea é a peça central da multibilionária indústria floral dos EUA e transporta flores para as casas e os escritórios de algumas das pessoas mais ricas e poderosas do planeta.

Entre os canteiros de obra sempre presentes, há um labirinto de lojas atacadistas, onde peônias e copos-de-leite transbordam de baldes, aguardando os olhos exigentes de artistas florais e decoradores. Da indústria da moda ao setor financeiro, o distrito oferece cenários perfumados para desfiles da Fashion Week, confraternizações nos Hamptons e eventos bilionários de arrecadação de fundos no Metropolitan Museum of Art. Mesmo assim, esse distrito histórico, assim como a ilha de Manhattan, está sendo invadido por uma indústria muito mais poderosa de Nova York: o setor imobiliário.

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A West 28th Street já ostentou mais de 65 atacadistas. Agora, resta um punhado de lojas de segunda e terceira geração. À medida que hotéis e edifícios de apartamentos se erguem nas proximidades, os aluguéis exorbitantes expulsam os atacadistas e floristas que não conseguem acompanhar o ritmo, um padrão observado em toda a cidade, onde agências bancárias e redes de drogarias ocupam o lugar das lojas familiares que funcionavam nos bairros. O distrito das flores registrou um aumento médio de 15 por cento nos aluguéis nos últimos 10 anos, de acordo com dados compilados pela corretora Citi Habitats. O aluguel mensal médio atualmente custa cerca de US$ 4.000, um dos mais altos da cidade, de acordo com uma análise da Bloomberg News. (No entanto, Nova York registrou uma queda de preços no segundo trimestre de 2018.)

O frenesi imobiliário também acabou com os estacionamentos próximos, dos quais os clientes das floriculturas dependiam para transferir carregamentos de flores das ruas congestionadas do centro da cidade. O aumento do tráfego tem impedido compradores de longa data até de caminhar pela cidade. Mesmo sem as consequências da construção e da gentrificação, o mercado de flores caras foi inundado por novos concorrentes – da Costco aos sites de comércio eletrônico e até delicatessens locais – o que aumenta a pressão sobre os floristas da 28th Street.

“Não há futuro viável para o mercado de flores aqui”, diz Gary Page, proprietário da G. Page Wholesale Flowers e ex-presidente da extinta Associação do Mercado de Flores, que reportou em 2000 que o distrito chegava a arrecadar US$ 120 milhões por ano. “Os tempos áureos acabaram.”

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