De olho no crescimento: o que esperar para 2018

Necessidade de ajuste fiscal e temor com resultado das eleições ainda freiam o otimismo com a retomada econômica, apesar de indicadores baixos de inflação e juros

Equipe InfoMoney

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Depois de sair da recessão, a economia lentamente dá sinais de retomada, com inflação e taxas de juros em níveis baixos. Mas as perspectivas de curto prazo ainda não animam economistas. Entre as dúvidas, as eleições de 2018 ainda são o grande fator de incerteza. O principal temor é com a posse de algum governo que não esteja comprometido com o ajuste fiscal e as reformas. Bruno Lavieri, sócio da consultoria 4E, traduz esse risco pós-eleitoral em números. “A gente fez uma simulação com um governo populista. Nesse caso, o crescimento durante o mandato ficaria entre 1% a 1,5% ao ano. É pouco, se a gente pensar que a queda do PIB nos últimos anos foi de 8%. A inflação chegaria ao final do período em 16,5%, em 2022.” André Perfeito, economista-chefe da corretora Gradual Investimentos, afirma que as eleições vão afetar a economia, e muito. “Vejo um risco muito grande de o Brasil migrar para o populismo de novo. Enxergo com muito pouca clareza os nomes que podem continuar esse projeto de ajuste da economia”, diz. Já para Julio Mereb, economista e pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getulio Vargas (IBRE/FGV), a questão das eleições perdeu um pouco de importância, pois a política econômica deve se manter até o fim do atual governo. Mas, a partir daí, o cenário muda. “A taxa de juros vai subir em 2019. Um ajuste fiscal muito importante deverá ser feito. Provavelmente vai ser um ano de crescimento um pouco menor. O que pode sustentar é uma nova apreciação do câmbio, que atenuaria essa alta de juros. Se entrar um governo reformista, poderia haver uma nova rodada de otimismo e valorização dos ativos brasileiros.”

Ainda que esperada, a queda da inflação este ano foi surpreendente. As previsões do mercado, segundo pesquisa Focus do Banco Central em novembro, eram de que o IPCA chegaria apenas a 3,06% em 2017 e a 4,02% em 2018 – abaixo da meta de inflação para ambos os anos, que é de 4,5%. “A queda da inflação trouxe ganhos reais em termos de salário e isso deu algum impulso para o consumo. Isso deve se manter, estender-se ao longo do próximo ano. O consumo deve continuar crescendo. Esse deve ser o único vetor a puxar o PIB este ano e no ano que vem”, diz Lavieri. Essa queda permitiu que os juros também caíssem em níveis maiores do que o previsto. Em outubro, o Banco Central reduziu pela nona vez consecutiva a Selic, para 7,5% ao ano, com indicação de que a taxa poderia encerrar o ano em 7%.

Tudo pode mudar se houver uma crise de confiança, em especial se o governo Temer não conseguir aprovar a reforma da Previdência. Para Mereb, no entanto, o mercado não está mais preocupado se a reforma será aprovada este ano. “Se for, é até mais positivo. Seria até mais favorável em relação ao que a gente tinha. Temos um processo de consolidação fiscal muito duro pela frente. O cumprimento do teto de gastos em 2018 vai ser difícil sem uma reforma fiscal mais profunda.

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Além disso, tem um cenário internacional de elevação de juros, com alguma normalização da política monetária. Se não houver um prosseguimento das reformas fiscais, isso coloca um limite para nossa capacidade de crescer. Podemos experimentar um ‘voo de galinha’ caso o resultado das eleições seja desfavorável ao prosseguimento das reformas”, diz. Para Perfeito, o crescimento futuro não está garantido. “O problema do Brasil não é econômico, é político. Reformas são acordos republicanos frágeis. O projeto das reformas não está compactuado na sociedade”, afirma. “Vai ser necessário aumentar impostos. O problema fiscal aconteceu no curto prazo porque as receitas despencaram”, diz.

A inflação sob controle, aliada à queda na taxa básica de juros, tem feito a economia se reanimar. Nesse ano o País saiu da recessão. Entre julho e setembro, o Índice de Atividade Econômica (IBC-Br), divulgado pelo Banco Central, apresentou alta de 0,58% quando comparado com o segundo trimestre de 2017. Foi o terceiro trimestre consecutivo de expansão do indicador. Esse índice mostra que o Produto Interno Bruto (PIB) do País fechará em situação bem mais confortável do que nos últimos anos. Em 2015, o PIB teve uma retração de 3,8% e, no ano passado, a economia encolheu 3,6%. Mas a volta dos investidores não está garantida. Para Luiz Marcatti, sócio-diretor da Mesa Corporate Governance, os investimentos continuarão, mas em tamanho e ritmo moderados. “O governo tem pouca, ou quase nenhuma, margem para investir. O caixa do BNDES está restrito. Mas algumas sedes de multinacionais já anunciaram bons investimentos para os próximos cinco anos. E os empresários que se mantiverem capitalizados e fizerem a lição de casa na crise deverão retomar investimentos.”

*Esta reportagem foi originalmente publicada na edição da revista Líderes do Brasil em 12/12/2017.