Polo da inovação: Porto Digital transforma bairro histórico do Recife

Parque tecnológico abriga mais de 300 empresas e institutos de pesquisas, além de empregar 9,5 mil pessoas

Equipe InfoMoney

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Localizado em área de 150 hectares do histórico Recife Antigo, o Porto Digital contabiliza faturamento anual de R$ 1,6 bilhão, gerado por organizações que ali se instalaram para buscar soluções inovadoras para os negócios. Segundo o diretor de Inovação e Competitividade Empresarial desse parque tecnológico, Guilherme Calheiros, a estrutura une empresário, universidade e autoridade pública no estímulo à pesquisa e desenvolvimento de mercados com base em novas tecnologias. Otimista, observa que, se por um lado a crise agrava a situação, por outro ajuda a impulsionar novos negócios: “Nesses momentos pode haver mais investimentos em tecnologia da informação para otimização de processos e consequente redução de custos”.

A gigante de consultoria tecnológica Accenture inaugurou em 2017 seu Innovation Center no Porto Digital, maior espaço de inovação da empresa na América Latina e que se juntou a outros cinco escritórios em Recife. Um ano depois, o CEO Leonardo Framil informa que, das 60 empresas que passaram pelo centro, 18 estão entre as 20 maiores do Brasil, com mais de 150 empresários envolvidos. “Não foram apenas executivos dedicados ao tema de tecnologia, mas também de marketing, investindo tempo para pensarmos em conjunto o modo como a tecnologia pode trazer soluções inovadoras, novos modelos operacionais e novas oportunidades”, afirma Framil, referindo- se à otimização de operações de negócios e também da indústria.

Prestes a completar 18 anos, o Porto Digital de Recife reúne esforços para estimular o investimento em inovação, com dinheiro e pessoas, para o desenvolvimento de soluções tecnológicas. Esse é, no entanto, um capítulo apenas iniciado no Brasil, observa o executivo. “Vivemos um paradoxo, porque nosso potencial é enorme e nossa capacidade de trazer inovações e até de ser protagonista global é grande. Mas os efeitos da crise econômica e política acabaram freando investimentos em inovação e educação, que ficaram aquém do necessário para formar mão de obra, criar um ecossistema de inovação e capturar todo esse potencial.” De toda forma, Framil destaca um programa em execução no local, com alunas do ensino médio de escolas públicas, em parceria com a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE): “Esse é um tema muito importante: como atrair mulheres para o mundo da tecnologia”.

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Para ele, um cenário de mais estabilidade econômica dará oportunidade de se usar a inovação para impulsionar diversos setores da indústria e aumentar a competitividade das empresas. “Na nossa visão, isso se consolida neste ano”, diz, para acrescentar que a unidade da companhia no Porto Digital deve concentrar recursos em pesquisas sobre inteligência artificial, com resultados aplicados para clientes da indústria, varejo, agronegócio e do setor financeiro. A operação da Accenture em Recife, que emprega mais de 1,6 mil funcionários, chegará a 2 mil em 2018. “Temos um plano de novos investimentos no segundo semestre, para ampliar o espaço e caracterizar ainda mais os setores. Cada um dos nossos clientes poderá ter uma experiência customizada para sua realidade, dependendo da indústria em que atue.”

Foi em 1996 que um grupo de professores da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) decidiu criar o Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife (CESAR), como explica Eduardo Peixoto, seu executivo-chefe de Negócios. “O que se pretendia era que a universidade, isolada, passasse a criar impacto social. Que ajudasse o estado a sair da economia canavieira para o século 21. Assim, o CESAR foi uma ponte entre a necessidade do mercado e a produção de conhecimento técnico.” Peixoto diz que a ideia inicial era promover inovação para a indústria e outros setores do mercado, com o tripé gente-negócio-tecnologia.”

No início dos anos 2000, houve o movimento por um Porto Digital no Recife Antigo, o que foi encampado como política pública, para atrair empresas de Tecnologia da Informação e da Comunicação (TIC). “O Núcleo de Gestão do Porto Digital, criado em 2001, busca atrair empresas, melhorar a infraestrutura do local, as telecomunicações e a qualificação de mão de obra”, afirma Peixoto, explicando que o próprio CESAR, com faturamento anual de R$ 100 milhões/ ano e 550 funcionários trabalhando para 70 clientes, deixou o prédio da UFPE para se instalar no bairro. Está em um prédio restaurado, assim como outras das 400 empresas de TIC, que geram 6 mil empregos diretos – o “conceito” Porto Digital tomou o Recife Antigo e hoje a próprio bairro está sendo mais conhecido pelo novo nome.

“CRIAS” DO PORTO

Uma das empresas nascidas no Recife que faz parte do Porto Digital é a In Loco, responsável por uma tecnologia inovadora de marketing de proximidade que hoje é reconhecida globalmente. Por Wi-Fi, e outros sensores de movimento, como giroscópio, bússola, acelerômetro e de campo magnético, o cliente que tiver determinados aplicativos de produtos instalado em seu celular receberá, desde que autorizado, ofertas de compras no local onde está, com precisão de até 1 m de distância, e também sugestões relacionadas ao seu perfil de consumidor – que não é identificado nominalmente. “Os computadores passaram a ser pró-ativos. Em vez de você pedir algo pela internet, eles é que estão trazendo ofertas para nós”, diz o CEO André Ferraz.

“O diferencial da In Loco é que os clientes [são 600, com aplicativos para produtos e serviços] recebem não apenas o número de cliques do usuário do celular, mas também a informação se o comprador foi até a loja”, destaca. A ideia da In Loco surgiu de um projeto acadêmico na UFPE em 2011, com a empresa formalizada em 2013 e atuando desde 2014. “É tecnologia brasileira, que nem o Vale do Silício tem. Estamos começando a trabalhar esse próximo mercado – o americano, que é nossa prioridade.”

Outra “cria” pernambucana presente no Porto Digital é a Neurotech, “uma das pioneiras no desenvolvimento da conexão de dados para um futuro mais previsível”, segundo seu diretor financeiro Caio Regis.

O grupo responsável por sua criação vem do CESAR. São 150 funcionários trabalhando, desde 2002, na análise de dados que apontam mercados emergentes. “Temos mais de 100 clientes, basicamente das áreas bancária e financeira, de seguros e de varejo”, diz Regis. Essas soluções avançadas da Neurotech são voltadas para automação de todo o ciclo de decisão em operações de crédito, cobrança, risco e fraude.

*Esta reportagem foi originalmente publicada na edição de 2018 da revista Fórum & Negócios.