Da demissão à empresa de US$ 100 bilhões: fundador da Netflix conta como tudo começou

"Minha memória desse dia não é brindando o meu sucesso com champanhe", conta o empresário sobre o primeiro dia de vida da Netflix

Mariana Zonta d'Ávila

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SÃO PAULO – “Ninguém sabe de nada”. É com a frase do roteirista de Hollywood, William Goldman, que Marc Randolph, cofundador da Netflix, usa para explicar o sucesso de sua empresa.

Tudo começou há 20 anos dentro de um carro, no trajeto diário de Santa Cruz a SunnyVale, na Califórnia, EUA, onde Randolph e Reed Hastings trabalhavam em uma empresa de software.

Após a empresa ter sido vendida duas vezes e adquirida por uma multinacional, Marc e Reed foram demitidos, com o acordo de que continuariam a trabalhar por mais seis meses – agora sem funções – mas recebendo o salário normalmente. “Foi o tempo que usamos para pensar em uma nova empresa”, contou Marc no evento de e-commerce VtexDay, em São Paulo.

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O trajeto de ida e volta era ocupado com a proposta de novas ideias e, ao chegar na empresa, a parte das pesquisas de mercado começavam. No meio de diversas ideias ruins, encontraram uma que acreditaram valer a pena: o envio de VHS pelo correio – ideia logo descartada com o surgimento dos DVD’s.

A nova tecnologia atraiu os empresários, que decidiram testar o “novo CD” em um modelo de aluguel. “Compramos um CD em uma loja de música, um envelope em outra e levei ao correio para enviar à casa de Reed. Em menos de 24 horas o CD estava lá, inteirinho, sem nenhum arranhão”, contou.

“Foi nesse momento que pensamos: isso pode funcionar”, lembra. Começou então o período de pesquisas: quantos DVDs havia no mercado, quantos e quais filmes, o público-alvo, como montar um site, quantas pessoas precisariam etc.

Decidiram correr o risco. Reed investiu US$ 2 milhões, alugaram um pequeno escritório e seis meses depois, em 14 de abril de 1998, nasceu a Netflix. A ideia era que as pessoas poderiam alugar e devolver filmes a qualquer momento, através de um site. Além disso, também venderiam DVDs.

Depois de um tempo perceberam que a venda de DVDs estava gerando uma grande receita, mas o aluguel não estava dando certo – o que era algo ruim.

“Vender DVD é um negócio de commodities. Não demorou muito tempo para que Amazon e o Walmart também começassem a vender DVDs, e depois todas as outras lojas também já estavam vendendo. E isso consequentemente afetaria as vendas da empresa. Agora o aluguel de DVDs, isso sim era promissor”, diz.

“Alguns conseguem vender e alugar ao mesmo tempo, mas sabíamos que se queríamos ter sucesso seria preciso escolher uma única coisa e focar nela. As vendas representavam 99% dos nossos salários, mas eventualmente iriam embora”, lembra. Decidiram então focar no aluguel de DVDs “que se descobrissem como fazer o negócio funcionar, poderia dar muito certo”.

Em um único dia eles saíram da área de vendas e focaram somente no aluguel. “Primeiro tivemos que fazer uma série de testes, checamos tudo, testamos tudo. O primeiro teste geral levou um mês, e falhamos. Aí pensamos: perdemos um mês inteiro, precisamos ser mais rápidos. Então passamos a testar uma nova ideia a cada duas semanas. Falhamos de novo. Então diminuímos o tempo para uma semana – falhamos de novo. Agora uma semana – falhamos. Mais rápido: dois dias. Mais rápido: um dia. Teve uma época que estávamos testando 3, 4, 5 coisas novas todos os dias”, conta.

Por último sobraram três ideias:
i) manter o DVD na casa do cliente e só trocar quando houver demanda, ao invés de manter um galpão;
ii)
criar uma “playlist” de filmes, de forma a entregar o próximo filme desejado logo em seguida e assim, já saber a ordem dos produtos a serem entregues;
iii) ao invés de ter que pagar pelo aluguel todas as vezes, eles criariam um serviço de assinatura.

Decidiram testar as três juntas – e funcionou. As pessoas começaram a chegar por meio de indicações, houve um aumento no número de clientes e interessados, e o negócio começou a mostrar resultado.

No primeiro dia de funcionamento da Netflix, em 1998, Randolph lembra que estava em sua sala no escritório e havia duas mesas: uma com um computador que tocaria uma campainha a cada novo pedido e uma com garrafas de champanhe para celebrarem.

“Às 9h arrumamos algumas coisas e ficamos online, até que ‘bing!’, nosso primeiro pedido. E comemoramos, abrimos o champanhe e ding ding, mais pedidos, e ding ding ding, mais 7 pedidos, eu estava tão feliz!”, lembra.

“Mas depois veio um silêncio, de repente o sininho não estava mais tocando; nos primeiros 30 minutos tínhamos queimado o nosso sistema”, diz. “Minha memória desse dia não é brindando o meu sucesso com champanhe, é arrastando um carrinho de supermercado em uma grande loja de eletrônicos tentando comprar todas as partes que precisávamos para refazer o nosso servidor”, conta.

Quando terminou o primeiro dia de funcionamento da empresa, Marc e Reed tiveram uma surpresa: 100 pedidos tinham sido feitos. “Eu nunca imaginei isso, era o que tínhamos conseguido no último mês inteiro”, diz.

Foi somente a partir de 2010 que descobriram o novo e atual modelo, de streaming, saltando para 125 mil assinantes. Hoje a Netflix possui um valor de mercado de mais de US$ 100 bilhões e ultrapassa dos 125 milhões de assinantes no mundo todo. “Eu nunca, em um milhão de anos, imaginaria que a Netflix se tornaria tudo isso”, afirma.

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