É novo no mercado e não conheceu a OGX? Então veja tudo que você precisa saber dela

Companhia que Eike Batista sonhou ser maior que a Petrobras pode voltar a valer R$ 10,00, um preço que não se vê desde que seu sucesso era possível

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – Nesta quinta-feira (12) ocorre a reunião que pode confirmar a volta da OGX – hoje Óleo e Gás Participações – para níveis de quase R$ 10, algo que poucos podiam imaginar considerando que há meses as ações da companhia são negociadas abaixo de R$ 0,10. Mas isso não é exatamente um retorno da empresa que já foi chamada de “mini-Petrobras”, mas um movimento que visa evitar que os papéis sejam excluídos da Bolsa.

A diretoria propôs – e o Conselho irá votar – um grupamento das ações da petrolífera, hoje em recuperação judicial, na proporção de 250 para 1, para poder se adequar às novas regras estabelecidas pela BM&FBovespa. Recentemente a Bolsa decidiu que nenhum papel pode ser negociado por mais de 30 pregões seguidos abaixo de R$ 1,00, podendo gerar multas, suspensão e até exclusão dos ativos.

Mas para quem está há pouco tempo na Bolsa pode não lembrar, ou nem saber, a história da OGX Petróleo, que no fim dos anos 2000 se tornou uma das maiores promessas do mercado e até hoje gera discussões, além de processos de acionistas. Eike Batista conseguiu realizar na época o maior IPO da história da Bovespa, e hoje vê sua petrolífera em recuperação judicial, a derrocada de seu império e, com uma decisão anunciada terça-feira pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários), está proibido de atuar em empresas de capital aberto por 5 anos.

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Relembre agora a história da OGX, que passou do maior IPO da Bolsa para uma empresa em recuperação judicial que vale apenas R$ 0,03:

A empresa que iria superar a Petrobras
Eike Batista já havia estruturado seu império, estava na lista das pessoas mais ricas do mundo, e agora começava a vender o projeto focado no que ele chamou de “melhor negócio do mundo”, o petróleo. O megaempresário uniu forças com Rodolfo Landim, seu braço-direito, que comandou a estruturação da futura empresa ao trazer executivos que trabalharam na Petrobras. Buscando se tornar a maior petrolífera do Brasil, a OGX Petróleo abria seu capital em 2008, captando R$ 6,71 bilhões na Bolsa, sendo 63,46% da quantia vindo de investidores estrangeiros.

Eike agora era dono do que podia se chamar a “mini-Petrobras”, mas havia uma grande diferença: enquanto a estatal produzia 2,5 milhões de barris de petróleo por dia, a OGX, até então, não tinha tirado uma única gota de petróleo da terra ou do mar. Era, até então, apenas um projeto, um sonho.

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Mas agressividade era o que não faltava, já que Eike esperava que em 2019 a companhia produzisse 1,05 bilhão de barris de petróleo, cerca de 2,89 milhões de barris por dia, sem contar a produção de gás natural. Com estas metas, a petrolífera demoraria 11 anos para conseguir superar a produção da Petrobras. Para melhorar a imagem da empresa, o fato de que a exploração da OGX não ocorreria no pré-sal, o custo de extração seria menor, o que poderia tornar o negócio ainda melhor.

Porém, nada seria fácil. No inicio das operações, havia um certo ceticismo do mercado, com alguns dos principais bancos e corretoras mostrando dúvidas sobre as operações da companhia e os enormes riscos que montar uma petrolífera obteria. Mas muitos investidores se mostravam bastante otimistas com os projetos da companhia.

Ao longo dos primeiros anos, Eike conseguia facilmente o apoio de outros investidores e conseguia emitir títulos de dívida para suas empresas quando precisava de financiamento, conseguindo o caixa necessário para seus projetos, mesmo que endividando suas empresas. Até então, tudo parecia que ia dar certo.

Começo conturbado, mas otimista
Mesmo com toda a euforia gerada pelo projeto houve uma forte queda das ações nos meses posteriores à sua abertura de capital. Os papéis da OGX chegaram a cair de R$ 13,80 para apenas R$ 2,50 em muito pouco tempo. Era a primeira queda extraordinária de alguma ação Eike Batista na Bovespa. Nesse momento, o cenário econômico pesava na Bolsa em geral, com o auge da crise do subprime, que havia começado a minar a confiança dos investidores no desenvolvimento da economia mundial, fazendo-os fugirem das aplicações mais arriscadas.

Porém, este ambiente complicado não durou muito e as ações logo passaram a subir novamente. Vale destacar aqui, que na época estes papéis ainda eram restritos à poucos investidores, já que a estratégia de Eike foi vender parte de suas empresas apenas aos investidores “qualificados”. Com isso, a OGX oscilou entre R$ 250 até R$ 1.700 nos dois primeiros anos, sendo necessários entre R$ 25 mil e R$ 170 mil para comprar um único lote de 100 ações. A baixa liquidez impedia que pessoas físicas comprassem ações individuais.

A empresa, porém, aprovou um desdobramento de ações algum tempo depois, o que passou a permitir que as pessoas físicas começassem a investir nessas empresas. A OGX decidiu transformar uma única ação da empresa em 100 no dia 18 de dezembro de 2009. As ações, que no dia anterior valiam R$ 1.580, passaram a valer R$ 15,80.

Começam as operações
O pontapé inicial foi dado durante a fase pré-operacional, no final de 2008, quando a OGX comprou 50% no bloco exploratório BM-S-29, na Bacia de Santos. Nesse mesmo ano, deu a largada para a interpretação de dados sísmicos 3D nos blocos exploratórios, que chegou a contabilizar 31, sendo 26 no Brasil e cinco na Colômbia. O ano de 2009 foi inspirador para a companhia, quando encerrou o período com portfólio de recursos estimado em 6,7 bilhões de barris.

O início efetivo das operações foi bom. Com muito dinheiro e uma boa equipe técnica, houve um grande sucesso na rodada de concessões da ANP disputada pela OGX. Logo na abertura de capital a companhia já possuía 21 concessões, sendo que ela operava 14 delas. O próprio prospecto falava que a companhia já tinha identificado cerca de 20 bilhões de barris de óleo equivalente (em petróleo ou gás natural) em estimativas médias.

Mais do que isso, a companhia detinha algumas áreas de concessões com risco baixo para o investidor, que já haviam sido previamente exploradas, e destacava que a equipe exploratória da OGX, era muito boa, com uma taxa de sucesso de 53% quando trabalhou na Petrobras, o dobro da média nacional. Nesta época, o mercado acreditava em um fabuloso sucesso para a petrolífera de Eike Batista. “Tudo isso permite antever um dos maiores êxitos de que sem notícia no mundo de negócios”, escreveu em sua biografia.

O auge
Eike viveu o auge da OGX – e de sua carreira – em 2011: o empresário foi avaliado como 8º mais rico do mundo e sua petroleira concluiu a perfuração do primeiro poço produtor, em Waimea, na Bacia de Campos. Naquele ano, a empresa também atualizou seu portfólio para 10,8 bilhões de barris de óleo, recebeu a primeira unidade de produção, a plataforma FPSO OSX-1, e fechou o primeiro contrato de comercialização de combustível com a Shell.

Mesmo com os riscos bem delineados no prospecto, havia uma euforia que acompanhava Eike conforme o investidor “escalava” o ranking de bilionários da Forbes – todos queriam estar do lado do ídolo, que passava a chamar cada vez mais atenção. E esta euforia era inflada “oficialmente” pela própria companhia, que durante sua campanha exploratória soltou 105 comunicados ao mercado detalhando cada avanço em cada poço, muitos deles com um nada leve tom de ufanismo e euforia.

Eram comunicados que detalhavam cada nova informação sobre os poços e, via de regra, tinham o poder de fazer as ações responderem bem na Bovespa. Se a própria companhia se declarava otimista, Eike era talvez a figura que melhor personificava isso. O seu otimismo era claro e facilmente percebível por suas cada vez mais frequentes aparições na mídia. Mas o tempo foi passando e os problemas começaram a aumentar.

Nem tudo era tão bom assim
Aquela expectativa colocada pela empresa de 10,8 bilhões de barris e óleo foram o começo para o que se tornaria a virada da companhia. Os papéis da OGX passaram a afundar na Bolsa após um relatório de reservas da DeGolyer & MacNaughton, que gerou dúvidas nos investidores e que viria a mostrar dados muito diferentes do que se estimava.

A própria OGX disse ter uma “reserva” gigantesca de petróleo após a divulgação do relatório da D&M. Uma reserva de 10 bilhões de barris ao preço de US$ 80 por barril, quantia usada pela companhia, fazia com que as reservas da empresa atingissem o valor de US$ 800 bilhões. Caso a pujança econômica mundial fosse retomada, muita gente no mercado acreditava que um barril poderia alcançar o valor de US$ 150 ou até mesmo US$ 200.

Porém, uma leitura mais cuidadosa do relatório de 2011 mostrou que a OGX não tinha uma reserva de 10 bilhões de barris, mas um quantidade muito menor: 102 milhões de barris. Os 10 bilhões só seriam alcançados com uma leitura muito otimista do relatório. No jargão da D&M, o termo reserva só aplica para acumulações que não possuem apenas avaliações geológicas,mas também sobre a viabilidade comercial da exploração desse petróleo. Até 2011, a D&M nunca usou a palavra “reserva” em um relatório sobre a OGX. O petróleo dela, portanto, ou entrava na classificação de “recursos contingentes” ou de “recursos prospectivos”.

O sonho virava pesadelo
Embora um ano atrasada – por prometer iniciar a produção em 2011 – a companhia passou algum tempo sem grande incidentes, até 2012. Nenhum evento foi tão importante em determinar que as coisas não iam bem para o grupo EBX do que o comunicado de produção de 25 junho daquele ano: ao contrário do fluxo esperado de cerca de 20 mil barris de petróleo por dia, a companhia estava produzindo apenas 10 mil – 5 mil de cada um dos poços instalados em Tubarão Azul, o que prejudicava toda a avaliação a respeito da companhia por parte do mercado.

Essa notícia foi um dos maiores eventos para a empresa desde o início: fez a ação despencar cerca de 25% no pregão seguinte, fazendo Eike despencar para a 42ª posição entre os homens mais ricos do mundo, e fez com que a empresa convocasse uma teleconferência com o mercado para tentar explicar a situação.

Nessa teleconferência, o próprio Eike junto com Paulo Mendonça, que na época já era presidente da companhia e Paulo Monteiro, que ocupava a diretoria financeira, viram afirmar que os números não prejudicavam a companhia – eram naturais. Foi esse evento que marcou a mudança. “A produtividade dos poços não está abaixo do esperado, mas precisamos injetar água para manter níveis aceitáveis”, afirmou Mendonça, lembrando de uma das técnicas que haviam sido prometidas para aumentar a produtividade dos poços – e que nunca conseguiram realizar uma mudança significativa.

Analistas de mercado começaram a ficar céticos com a companhia depois desse dia. “Acreditamos que o baixo nível de produção em relação às expectativas coloca em dúvida todas as premissas por trás de todo o programa de crescimento da OGX”, escreveram Frank McGann e Conrado Vegner, que na época formavam equipe de análise do Bank of America Merrill Lynch em relatório logo após o incidente. “Até em relação às nossas expectativas, que tem sido consistentemente entre as mais conservadoras, o anúncio é um grande choque. Vemos isso como um grande desapontamento que provavelmente terá um longo efeito sobre as avaliações feitas sobre a OGX”, completaram – cortando a estimativa de preço das ações de R$ 19,50 para R$ 7,50.

Toda essa movimentação fez com que a companhia declarasse que o mercado estava vendo a situação de maneira “errada”. A produção, na verdade, seria após a utilização das técnicas. Um dos poucos bancos a continuarem recomendando a OGX depois desse evento foi o HSBC, que publicou um relatório logo depois contrariando a maioria dos analistas, ao afirmar que o risco era inerente do setor de petróleo e gás e que o histórico de exploração da companhia, até aquele momento, era bom e dava crédito.

Infelizmente, a maioria acertou – Tubarão Azul nunca mostrou uma quantidade adequada de produção, mesmo depois da instalação do terceiro poço, em janeiro de 2013. Durante o tempo em que foi explorado pela OGX campo foi marcado por problemas operacionais, se tornando um grande desapontamento. No início de julho de 2013, o golpe fatal: a companhia anunciou que desistia de seu único campo produtivo, e que cessaria as atividades em 2014, abrindo mão dos campos de Tubarão Tigre, Tubarão Gato e Tubarão Areia, adjacentes da região onde a OGX optou começar a produzir petróleo.

As dívidas, a put e a reestruturação
A produção fraca fazia com que a companhia não conseguisse gerar caixa suficiente para pagar as dívidas e o seu juro. A única saída seria a injeção de mais capital na companhia – seja de Eike ou de algum outro grupo. “A perspectiva poderá ser alterada para estável após uma entrada de caixa externa significativa que poderá aliviar a esperada pressão de liquidez para os próximos trimestres”, escreveu a analista Renata Loffi, da Standard & Poor’s, em agosto de 2013. Na época, o rating da empresa era cortado de “B” para “D”. 

Para resolver isso, aumentar a produção em Tubarão Azul era prioridade número um da OGX para conseguir pagar as dívidas – a companhia tinha dois poços instalados em 2012 e instalou mais um no início de 2013, que não conseguiu mostrar nenhuma melhora. Em julho de 2012, a S&P projetava que a companhia atingiria uma média de produção de 40 mil barris de petróleo por dia em 2013, e como isso não ocorreu, as perspectivas para as dívidas da companhia só pioraram ao longo do ano.

O fracasso de Tubarão Azul obrigou a companhia a ter de focar suas esperanças no campo de Tubarão Martelo e tudo isso já enfrentando o processo de reestruturação da dívida. Sem produção, o pagamento das dívidas só conseguia ser realizado com novos endividamentos ou novos investimentos por parte dos grandes acionistas da companhia, dos quais o grupo EBX era o único. Mas isso só ocorreu pelo fato de que a produção havia sido decepcionante. Empresas com produção já estabelecida, como a própria Petrobras, conseguem mitigar esse risco e veem suas notas de créditos serem mais estáveis que a de empresas baseadas apenas em perspectivas.

Em outubro de 2012, Eike criava uma das situações mais embaraçosas de sua história com a OGX. No dia 24 daquele mês, o empresário ofereceu injetar US$ 1 bilhão quando a companhia quisesse, ou precisasse. Para isso, bastava que os conselheiros independentes da companhia solicitassem. Ao pedir o bilhão, a empresa subscreveria novas ações e Eike as compraria por R$ 6,30, totalizando US$ 1 bilhão. Eike aumentaria sua posição acionária então, diluindo os minoritários.

A companhia finalmente exerceu a put, o que, por um breve momento, chegou a animar o mercado. Em poucos dias, porém, Eike mandou uma carta para a companhia dizendo que contestaria a put em uma corte arbitral. Sua alegação é de que a diretoria da companhia não poderia exercer a put, já que essa função cabia, exclusivamente, aos conselheiros independentes da companhia. O detalhe era que a companhia não tinha conselheiros independentes há alguns meses – desde que as conversas sobre exercer a put começaram. Isso minou a confiança dos investidores: até Eike parecia estar fugindo da OGX.

Nesse momento, a companhia enfrentava uma difícil reestruturação de dívida – que já durava meses – para evitar a recuperação judicial ou falência. Os credores da companhia brigavam para que Eike injetasse o US$ 1 bilhão prometido na companhia. Ele, porém, negou publicamente. Em entrevista ao Wall Street Journal, o megaempresário disse abertamente que essa era a vontade dos credores, mas que não o faria – e que, provavelmente, os credores acabariam recebendo o comando da companhia em troca da dívida. Com essas palavras, a liderança máxima da própria OGX, o controlador Eike Batista, desistia publicamente da empresa. Toda essa história irritou bastante acionistas e credores.

O próprio processo de reestruturação de dívidas ensinou bastante sobre a situação de crise que a empresa passava – ajudando a espantar ainda mais os acionistas. “Nos Estados Unidos, a coisa é montada para que a empresa sobreviva, continue gerando empresas”, afirmou Luiz Eduardo Carneiro, diretor-presidente da OGX em setembro de 2013, admitindo que a recuperação judicial era uma possibilidade. Nesse período, os títulos de dívida da OGX eram os mais baratos do mundo: ninguém mais acreditava que a empresa de Eike conseguiria dar a volta por cima.

O fim
A reestruturação fracassou e a empresa entrou em frenéticas conversas com os credores para discutir os termos da possível transformação da dívida em novas ações. Foram praticamente dois meses em reuniões. A empresa deixou de pagar juros da dívida em 1º de outubro de 2013 e anunciou que teria apenas mais 30 dias de “cura” antes de ser tida como inadimplente e acionar o pagamento adiantado das dívidas, que faria a companhia entrar em um processo de falência. 

A OGX lutou até o fim. Eike negociou, procurou novos investidores e até mesmo destacou que “abria mão da companhia”. Sem ter como pagar o juro da dívida, enfrentava o pagamento antecipado de US$ 3,6 bilhões. Para evitar a liquidação, entrou com o pedido de recuperação judicial em uma quarta-feira, 30 de outubro. Ainda antes do fim de 2013 a companhia de nome, com a retirada do emblemático “X” que acompanhava as empresas de Eike Batista. A OGX passava a se chamar Óleo e Gás Participações, ou OGPar.

O plano para a recuperação
Seis meses após a mudança de nome, a Justiça aprovou o plano de recuperação judicial da companhia, em uma proposta que tem até 2016 para ser cumprida. A proposta prevê três operações principais. A primeira é que dívidas de US$ 5,8 bilhões sejam convertidas em ações “representativas de 25% do capital social da OGX após sua reestruturação”. Também serão emitidos US$ 215 milhões títulos (debêntures) com garantias que dão super prioridade de pagamento e serão convertidas em ações, representando 65% do capital social da OGX após sua reestruturação.

Para os acionistas, serão emitidos títulos equivalentes a 15% do capital social da OGX após sua reestruturação, considerando um preço de emissão baseado no valor de avaliação da OGX após sua reestruturação em US$ 1,5 bilhão.

O plano indo por água abaixo e os processos contra Eike
O plano de recuperação da empresa foi avaliado por uma consultoria externa, que atestou sua viabilidade, mas considerava também uma série de condições para que fosse atendida. Uma era reduzir o tamanho da petroleira,algo que ocorreu. Os custos foram cortados e 70% dos funcionários foram demitidos.

Outra era que o preço do barril ficasse em US$ 100, mas a queda da commodity para menos de US$ 50 neste ano inviabilizou o resto. A OGX ficou novamente sem dinheiro e começou a dar calote nos fornecedores, repetindo o ciclo da primeira vez que quebrou. Sem dinheiro para extrair petróleo, a produção diária no principal campo da empresa caiu de 14 mil barris para 10 mil barris e está cada vez mais difícil fechar a conta.

Paulo Narcélio – escolhido para reestruturar a empresa – viajou no fim de julho para Nova York para tentar, de novo, salvar a OGX. Por dois dias, reuniu-se com investidores enfurecidos. Nos bons tempos em que a petroleira parecia viável, eles haviam aplicado US$ 500 milhões na construção de uma plataforma, responsável por 80% da produção da empresa. Na época, a OGX se comprometeu a alugar o equipamento. Não cumpriu sua parte e agora os fundos cobram os US$ 500 milhões, mais os aluguéis atrasados.

Na reunião, Narcélio propôs aos investidores que, em vez de receber o que a petroleira lhes deve, entregassem a plataforma à OGX e se tornassem seus sócios. O grupo pediu um prazo, até o início de setembro, para responder. “Se o impasse continuar, os credores poderão pedir falência. Ou aceitam (o acordo) ou morre todo mundo abraçado. O acordo é o prato menos indigesto”, disse Narcélio para a Época. Em abril, a petroleira prometera aos credores que a salvaram em 2014 que chegaria a um acordo com os donos da plataforma até 15 de agosto. Não conseguiu, mas convenceu os credores a estender o prazo até o fim de outubro.

Nos últimos meses, Eike se mantém longe dos holofotes das empresas. Ele responde a duas ações penais na justiça, acusado de ter manipulado o mercado e vendido ações antes de a OGX e o estaleiro OSX reconhecerem seus problemas. Se condenado, poderá cumprir até 13 anos de prisão. Eike tem R$ 162 milhões retidos pela Justiça, para pagamento de indenizações em caso de condenação. Três outras empresas de seu antigo império estão em recuperação judicial. Há alguns meses Eike anunciou uma parceria com um laboratório coreano fabricante de um remédio, em forma de adesivo, contra impotência.

O grupamento
O mais recente movimento da companhia nada tem a ver com sua recuperação judicial ou com suas dívidas, mas serve para cumprir uma regra da Bolsa. A proposta de grupamento de 250 para 1 fará com que as ações voltem ao preço de R$ 10,00 – segundo o fechamento de R$ 0,04 de quarta-feira. Mas é importante lembrar outros casos recentes de grupamento, que mostram que estes este movimento apenas abre espaço para que as ações destas empresas registrem mais perdas.

Para explicar isso melhor é só pensar em como funciona um grupamento. O preço da ação nestas situações não foi elevado porque mais pessoas decidiram comprar e ela se valorizou, mas sim porque o preço sofreu um ajuste para cima devido à diminuição de papéis existentes no capital social. Isso significa que o mercado pode olhar para os fundamentos daquela empresa como endividamento, fluxo de caixa, Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização), etc. e enxergá-la como “cara” no patamar pós-grupamento. Com isso, surge uma pressão vendedora, já que o investidor não vai querer ter em suas mãos um papel sobrevalorizado.

No caso da OGX é difícil prever o que irá acontecer daqui para frente. A companhia segue tentando crescer para conseguir cumprir seu plano de recuperação, algo que está se tornando cada vez mais complicado. Mas diante de uma história tão cheia de viradas, é muito complicado cravar o fim da empresa que, um dia, já foi chamada de “mini-Petrobras”.

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.