Estrategista de investimentos questiona: “o que você está esperando para investir no exterior?”

Alberto Bernal, Estrategista global da XP Securities explica porque é importante investir globalmente 

Mariana Zonta d'Ávila

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SÃO PAULO – Especialistas e investidores bem-sucedidos do mundo todo concordam em um aspecto: a importância da diversificação das aplicações financeiras. Há muito tempo o consenso de não colocar todos os ovos em uma mesma cesta tem sido fundamental para garantir uma boa rentabilidade e proteger o investidor de fortes oscilações do mercado financeiro.  

Alberto Bernal, estrategista global da XP Securities, diz que a diversificação da carteira de investimentos é fundamental e deve considerar ativos internacionais. Para ele, o investidor precisa olhar principalmente para ativos dos Estados Unidos, o mercado mais importante do mundo. “Um estudo recente mostra que para montar uma uma alocação internacional balanceada o investidor deve ter pelo menos 53% do seu dinheiro nos EUA, 9% no Japão e o restante entre Europa e Ásia”, afirma.

Com um cenário político e econômico complicado no Brasil, a importância de diversificar os investimentos de maneira global fica ainda mais evidente. “A única forma de se proteger é diversificando o seu portfólio. Quando você diversifica, se permite não ter que acertar todas as vezes, até porque isso seria impossível”, destaca. Para quem ainda não pensa na possibilidade de fazer esse tipo de aplicação, ele é categórico: “Se você não o faz, o que está esperando? Se não diversificar o seu portfólio, corre o risco de perder a capacidade de manter o seu capital com o tempo”, alerta.

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O executivo também afirma que as oscilações de câmbio não devem ser o driver para decisões de investimentos internacionais. Isso porque é impossível saber com certeza se a moeda vai subir ou cair no futuro e depender desse tipo de acontecimento não faz sentido. O ideal, segundo ele, é criar um sistema em que você invista com regularidade. “Ninguém consegue prever o futuro. Quando você acredita que o mercado está muito volátil, pode escolher se participa ou não dele, mas é isso seria a mesma coisa que não sair nas ruas de São Paulo por medo da violência”.

Confira abaixo a entrevista completa com o estrategista global da XP Securities:

InfoMoney: Você vê o mercado americano como uma possibilidade de diversificação global?

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Alberto Bernal: Sim, com certeza. Você sempre precisa ter ativos dos EUA no seu portfólio se o que você quer é diversificação. O país possui o mercado mais importante do mundo e é um dos países que possui maior liquidez.  Uma pesquisa realizada pelo Morgan Stanley, que avalia os tamanhos dos mercados, diz que você precisa ter no mínimo 53% do seu dinheiro alocado nos Estados Unidos. Além disso, 9% devem estar no Japão e o restante pode ser investido na Europa e na Ásia. Isso mostra que uma grande parte do seu portfólio estará alocado no mercado americano.

IM: Com o conturbado contexto político-econômico no Brasil, qual a importância de diversificar os investimentos globalmente?

AB: Você nunca sabe o que pode acontecer. É muito fácil entender da maneira errada. Mesmo que você acompanhe o mercado todos os dias e todos os segundos, erros acontecem e é impossível prever o mercado. A única forma de se proteger é diversificando o seu portfólio. Se você possui ativos em 20 países, por exemplo, e um deles apresenta um bom desempenho, há uma grande possibilidade de que outro país apresente um desempenho razoável. Por exemplo, neste ano o mercado brasileiro de ações não está sendo uma boa opção. Por outro lado, o México tem apresentado boa rentabilidade neste mercado. Quando você diversifica, você se permite não ter que acertar todas as vezes, até porque isso seria impossível.  

IM: Como você enxerga o cenário político e econômico nos EUA e na Europa?

AB: Nos EUA a pergunta que permanece é: será que Trump conseguirá apoio no Congresso para aprovar a sua agressiva agenda legislativa? Há uma grande diferença entre o que você quer fazer e o que você pode fazer. Será quase impossível convencer o Congresso, até mesmo os membros de seu próprio partido, a aceitar as mudanças que ele quer fazer. Vai ser difícil, porque precisam ser considerados custos e benefícios, e é complicado mudar a legislação da saúde pública, porque a ideia não é popular. Eu duvido muito que ele se saia bem-sucedido disso e que consiga mudar a economia do país. Já na Europa, a possível vitória de Marine Le Pen, na França, poderia significar o fim da Europa como a conhecemos. O risco era se ela vencesse, o que não aconteceu. Agora teremos eleições na Itália e na Alemanha; as coisas sempre podem dar errado.

A Europa não é muito diferente dos EUA: as pessoas que votaram pelo Brexit são as mesmas que votaram pelo Trump nos EUA: estão furiosas porque a economia não está contribuindo para que elas tenham uma boa qualidade de vida. A única forma de corrigir esse problema é aplicar algo mais agressivo no setor de educação, até porque essas pessoas ficarão para sempre sem emprego. Aqueles empregos já não existem mais e nunca mais voltarão. Por outro lado, os “empregos do futuro” podem voltar, ou seja, aqueles ligados à matemática, tecnologia, etc. O processo de recuperação será longo e os benefícios podem não aparecer pelos próximos 10 anos.

IM: Com relação à alocação global, quais são os investimentos mais visados no momento? Títulos soberanos, fundos ou bolsa? De quais países?

AB: Quando Trump foi eleito as pessoas começaram a vender seus títulos e a comprar ações. Nos últimos dois meses, porém, o movimento tem sido contrário: as pessoas estão reduzindo suas exposições em ações e migrando para os títulos soberanos. No mercados emergentes os investimentos preferidos são as boas e sólidas companhias, que crescem e pagam um retorno maior, possuindo até mesmo uma vantagem sobre o mercado americano.

No começo do ano, o mercado tinha uma recomendação mais voltada para investimentos no setor de energia, em instituições financeiras e em tecnologia. Na minha opinião, o ideal agora é investir mais em tecnologia e menos em instituições financeiras.

IM: Quais os principais fatores que os clientes devem observar para decidir fazer essa migração?

AB: São três os principais fatores: 1) você deve investir nos mercados internacionais e se não o faz, o que está esperando? Se você não diversificar o seu portfólio, você está correndo risco de perder a capacidade de manter o seu capital com o tempo. Você pode até investir um pouco por mês, ou a cada trimestre para que você consiga construir um portfólio. 2) quando você investe lá fora é mais seguro fazer por meio de ETFs (Exchange Traded Funds), ativos que você consegue comprar com o seu assessor de investimentos. Com isso, você pode criar um portfólio com exposição no Brasil, na Colômbia e em diversos países. É menos arriscado do que tentar escolher empresas específicas das quais você não sabe nada. 3) você precisa de alguém para auxilia-lo a criar e administrar o seu portfólio, um profissional (assessor).  

IM: A alta do dólar deve influenciar os investimentos lá fora? O investidor deve se preocupar com a alta pontual, ou deve olhar mais para o longo prazo e pensar em termos de diversificação?

AB: A alta do dólar não deve dizer se você deve ou não investir. É impossível prever o mercado. Nós até temos uma visão do que pode acontecer, mas não é certeza. A melhor coisa a se fazer, neste caso, é criar um sistema em que você invista com regularidade. Eu, por exemplo, invisto US$ 100 todos os meses para, no futuro, pagar parte da faculdade dos meus filhos. Ninguém consegue prever o futuro, então é difícil de afirmar o que pode acontecer. Por outro lado, quando você acredita que o mercado está muito volátil, você pode escolher se participa ou não dele, mas é a mesma coisa que não sair nas ruas de São Paulo por medo da violência.